XRM: “Acho que todo mundo que aprendeu a narrar CS, aprendeu muito, senão tudo, com o BiDa”

Semana passada, tivemos a oportunidade de entrevistar um dos grandes ícones da narração de Counter-Strike no Brasil, Pablo “xrm” Oliveira.

xrm está atualmente na cobertura dos principais eventos nacionais e internacionais e nos contou um pouco sobre a sua carreira, se consegue sobreviver com sua renda de narração e como lida com os famosos bordões, que consagram, ou viram motivo de piadas, de diversos narradores.

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Pablo “xrm” Oliveira narrando uma partida (Foto: Reprodução/Facebook)

Antes de narrar CS:GO, o que você fazia? E o que te fez começar a ser narrador?

Eu trabalhava em uma produtora de vídeo, editava os vídeos, e aí eu comecei a criar um canal de YouTube com um amigo que trabalhava lá sobre notícias de CS:GO, a CSTV. Conforme o canal foi crescendo, eu tive a oportunidade de entrar em contato com o BiDa e pessoas do meio da narração de CS, e logo que eu tive a primeira reunião com o BiDa, já perguntei sobre a oportunidade de começar a narrar e ele me deu o contato do QeP.

Comecei a fazer os testes e deu tudo certo. Mas na verdade, eu já tinha feito um curso de locução, porque eu já tinha tentado ser narrador de outros esportes, como futebol, jiu-jitsu, MMA e até tênis.

Mas você chegou a narrar esportes tradicionais?

No começo eu tive a oportunidade de tentar uma webrádio, um negócio bem amador, narrando algumas partidas de futebol. Foi bem legal, mas como eu falei, eu gostaria muito de narrar futebol, MMA e até tênis, que são os esportes que eu mais acompanho.

Hoje em dia já é possível viver só de transmitir os jogos ou é necessário fazer algo a mais para complementar a renda?

Sei que existem hoje narradores que vivem só disso [narração], mas a renda não é muito alta não. Não acredito que tenha alguém que esteja ganhando mais de 3 mil reais por mês com narração, pelo menos no CS:GO. Obviamente no League of Legends e em outros esportes como o Rainbow Six, são modalidades que pagam mais e com certeza é mais tranquilo.

Existem narradores de CS, como por exemplo o QeP, o Savage e o GuizaO, que vivem hoje só de narração, mas não é o meu caso. Eu tenho alguns custos, tenho que ajudar outras pessoas na minha casa, animais de estimação, então pra mim, o dinheiro que eu ganho com narração não é o suficiente. Tenho sim que trabalhar com outra coisa para complementar a renda. Na verdade, acho que o dinheiro de narração é 30% do que eu ganho hoje em dia.

O BiDa é um dos grandes expoentes da narração do CS no Brasil e o Octavio Neto foi um dos que cresceu mais rapidamente, pelo seu estilo engraçado e ao mesmo tempo muito profissional. O que você pode aprender com cada um desses narradores?

O BiDa é sem palavras! Acho que todo mundo que aprendeu a narrar CS, aprendeu muito, senão tudo, com o BiDa. Tudo o que eu sei hoje em dia, a maioria das coisas, foi escutando ele narrar e ensinar.

Então acho que a base da narração do CS, todo mundo tirou de exemplo o BiDa.

O Octavio Neto é o profissionalismo. Como você falou na sua pergunta, o profissionalismo dele em qualquer situação é muito importante e também a descontração. Eu peguei alguns toques deles, não toques em si, mas observando ele, nisso de ser mais descontraído, de dar uma “causada” um pouco. Vejo que ele dá uma “zuada” às vezes, que a gente até achava que não poderia ser feito mas quando ele faz, e da forma que ele faz, sempre muito carismática, você vê que dá para dar uma “zuada” em algumas coisas.

Tem a questão dos bordões também. Eu não sou um cara muito de bordões, mas o Octavio Neto trouxe isso e ele é um cara muito “zica” nisso, e eu realmente me inspiro bastante nesse quesito, tentando trazer mais bordões, por mais que eu não siga do jeito que ele faz.

Falando em bordões, eles são a marca registrada de um narrador. Há um processo criativo para se criar um ou é simplesmente algo natural que vem durante a transmissão?

Não sou referência para bordão, mas acho que tem os dois. Tem tanto as coisas que vem naturalmente, quando você fala algo durante a transmissão e vê que encaixou, e tem também a tentativa de você ir atrás de mais coisas. Por exemplo, eu tenho um bordão, que não é bem um bordão mas eu falo bastante e o pessoal sempre fala de mim, que é a tal da “capa da gaita”. E aí quando eu percebi que a “capa da gaita”, que eu falei naturalmente, funcionou em uma transmissão, eu fui atrás de outras palavras, como “pó da rabiola”, “bagaço da laranja”, coisas assim parecidas. Mas não é muito meu forte criar bordão não.

Um tempo atrás, era muito comum os problemas de pagamento para casters e comentaristas, com atrasos de meses. Evoluiu algo desde lá ou vocês ainda sofrem com isso?

Depende da empresa. Não vou ficar citando nomes, mas tem empresas que pagam até antes de você trabalhar e são realmente sensacionais [nesse quesito] e outras que demoram mais mas acabam pagando também. Eu ainda não tive problemas de não receber, mas [em alguns casos] já demorou muitos meses, e ainda demora hoje em dia em alguns campeonatos.

No final das contas a gente recebe e isso é o que importa. Talvez para quem sobreviva só disso, seja mais complicado. Mas para mim, que já tenho uma renda e o dinheiro de narração é um a mais, não muda tanto, sinceramente.

As finais MD5 podem gerar transmissões de quase um dia inteiro, fora o trabalho preparatório. O que você acha desse formato? Cansa narrar por tantas horas?

O trabalho preparatório não muda muito, mas cansa sim, com certeza. Narrar 5 mapas seguidos cansa muito, mas o que eu não gosto da MD5 não é nem a questão da narração, não gosto quando sou espectador. Porque uma MD5 vai durar o quê, 6, 7 horas? Imagina, você vai ter que ficar lá no seu domingo 7 horas assistindo campeonato. Perde seu domingo inteiro, cansa de assistir o jogo. Realmente, não acho que é o melhor formato.

Mas assim, depende muito. Às vezes uma MD1 se for um jogo ruim cansa e uma MD3 se for um jogo bom não cansa tanto. Uma MD5 também é a mesma coisa, se for um jogo bom não vai cansar.

A vinda da ESL One e o surgimento da LA League tem tudo para alavancar de vez o CS:GO no Brasil. Para você, o que ainda falta para o cenário brasileiro se tornar uma potência?

Com certeza esses campeonatos são importantes, mas não acho que a ESL One em si vai melhorar tanto o cenário brasileiro. Talvez seja um começo para a gente ter outros eventos desse porte aqui no Brasil, o que é bom também, mas acho que a LA League tem muito mais pra ajudar no nosso cenário e é isso que a gente precisa. Precisamos de oportunidades para os times aqui do Brasil garantirem vagas nos eventos lá fora, como a LA League vai fazer, que vai dar uma vaga para a ESL Pro League.

A ESL One também vai trazer um caráter mais profissional pro nosso cenário e com isso trazer mais patrocinadores.

O que eu acho que falta é isso, interesse de patrocinadores e investimento no cenário para que os jogadores possam realmente ter uma profissão, já que hoje em dia são raros os times que são profissionais e os jogadores que recebem um salário digno para poder trabalhar com CS.

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Comentários 1
  1. Mas você so pode ta de brincadeira… GORDOX é o MITO da narração, sempre foi e sempre sera… quando não EXISTIA NADA… gordox tava lá narrando