LoL: Halier: “No Brasil, não se ganha o time com mais conhecimento de jogo, mas sim o que erra menos”

Gabriel “Halier” Garcia Negreiros foi campeão do Rift Rivals e bicampeão do CBLoL com a KaBuM! e-Sports e hoje integra a comissão técnica do Santos e-Sports. Ele disputará o primeiro split do Circuito Desafiante nesta temporada.

Para quem não conhece o seu trabalho, quem é o Halier e quanto tempo trabalha com esports?

Meu nome é Gabriel Garcia Negreiros, tenho 29 anos, sou formado em jornalismo, ex-jogador de futebol, ex-atleta de jiu-jitsu e atualmente trabalho como coach de League of Legends.

Comecei de modo amador em 2015, treinando time ouro/platina. Com meses fui obtendo bons resultado e fui sendo chamado para times de elos maiores, até que em junho de 2016 fui contratado para minha primeira equipe profissional, a Dark Horse, que era a atual vice-campeã do Circuito Desafiante do Chile.

Para quem sonha em fazer parte da comissão técnica de uma equipe de LoL, quais os passos que você recomenda?

Viva para estudar o jogo, procure stream de jogadores didáticos e não de entretenimento, siga os casters brasileiros e estrangeiros que você admira, aprenda inglês, já que a melhor parte do material vem de fora, seja um líder e não um chefe, dê exemplo de proatividade, valorize material teórico para o desenvolvimento da sua equipe, não tenha medo de errar e se desenvolva com seus erros. Acho que essas são dicas básicas para você se tornar um bom treinador.

Desde que entrou no cenário, quais são os pontos que vê de evolução na liga e quais são os que ainda deixam a desejar?

A região brasileira é boa e tem conhecimento, mas creio que um dos principais fatores é uma questão cultural que impacta diretamente no jogo, que é a falta de disciplina para executar ações. O atleta sabe o que tem que fazer, como fazer, mas acaba se perdendo tentando fazer uma play individual ou querendo mudar a ação no meio da chamada e isso é reflexo da falta de disciplina, já que a maioria dos jogadores não tiveram uma base para amadurecimento. Eles vêm “de casa para a GH”, então quase sempre vêm com muitos vícios e etc.

Creio que times academy com jogadores cada vez mais jovens, que estão “crus” e ainda não tem vícios, vai gerar atletas mais completos a médio prazo. Hoje, são poucos os jogadores que têm essa disciplina. Creio também que o investimento em staff estrangeira para capacitar os treinadores nacionais, que muitas vezes nunca tiveram referência de treinadores em suas vidas pessoais, vai em um médio/longo prazo ter uma geração mais capacitada, uma vez que a reclamação de muitos jogadores sobre treinadores brasileiros tem um certo fundamento.

Você teve o privilégio de trabalhar na KaBuM ao lado de Hiro e Tabe. O que pode dizer à respeito do nível técnico deles?

Com certeza são acima da média do que há em nossa região e para mim, foi uma ótima experiência trabalhar com eles. Pude aprender áreas específicas que me fizeram evoluir na parte estratégica e de conhecimento geral do jogo ao longo dos anos.

De que maneira a punição da Riot impactou na sua carreira? Você pensou em desistir?

Desistir? Jamais! Vinha recebendo apoio de muita gente do cenário e até equipes de outro esports, como o CS, me mandaram mensagem de apoio. Eu entendo a atitude da Riot 100% e eles me deram todo o apoio para provar minha inocência, e eu sabia que seriam tempos difíceis, mas que eu provaria tudo como o fiz.

Sim, ela impactou negativamente nessa janela, mas são coisas da vida. Agradeço ao Santos pela confiança e agora é fazer o melhor possível pela organização.

Como foi o contato com o Santos?

Já tive contatos com o Santos em outras oportunidades, mas somente agora conseguimos concretizar essa parceria. Sei que eles acompanham meu trabalho há muito tempo e confiam muito em mim para ajudar em suas metas.

Quais os principais objetivos para esse primeiro split do Circuito Desafiante?

Eu particularmente não gosto de traçar esses tipos de objetivos. Quero chegar na Gaming Office e entregar o melhor “Halier” possível para a organização e a sua torcida. Se isso será o suficiente para uma promoção ao CBLoL, só o tempo vai dizer.

Ano após ano, cresce a cobrança de resultados das equipes brasileiras em torneios internacionais. O que falta para irmos além nas competições?

Honestamente, creio que são os mesmos problemas que nos atrasam a nível nacional, a única diferença é que lá nós somos punidos de uma maneira muito mais acachapante do que aqui dentro. No Brasil, não se ganha o time com mais conhecimento de jogo, mas sim o que erra menos.

Essas coisas triviais são feitas de maneira tão frequente que decidem jogos e campeonatos, assim como o nível de conhecimento. O quinto jogo entre Flamengo e KaBuM, da final de 2018, foi um exemplo claro. Nós tínhamos cometidos muitos erros no início do jogo e tinha uma Irelia 3/0/2 com 12 minutos de jogo e a gente perdendo de 5 a 1 em abates. Em qualquer liga major como LEC, LPL, LCK, é GG, acabou o jogo. Mas não no Brasil.

O Flamengo cometeu erros tão triviais quanto os nossos que fez com que a gente gente conseguisse voltar para um jogo em tese perdido e ganhássemos a série.

Sobre a chegada de mais imports no CBLoL, o quão isso pode ser benéfico para a região e o quão impactante pode ser em nosso cenário?

Eu particularmente acho muito válido, especialmente nas posições mais carentes que temos de jungler e suporte. Eles trazendo visão dessas roles, onde o conhecimento de jogo impacta mais do que a mecânica, com o grupo certo para absorver esse conhecimento, teremos mais a crescer, e também na staff.

Acho extremamente válido uma equipe que traga coachs de fora e tenha um brasileiro para absorver esse conhecimento, para também melhorar o nível técnico da staff. Além de que, antes jogadores que teriam vagas em times, acabam aumentando a mão de obra para times academy, o que também melhora o nível de “base”, com um ou outro mais experiente que ajuda no processo de amadurecimento dos jogadores mais jovens.

Quem chega como favorito ao título no CBLoL?

Nisso, eu vou com a opinião popular. Acredito que paiN e Flamengo largaram na frente, com a INTZ correndo por fora, mantendo o grupo sólido e com dois chineses, que tem grande potencial de melhorar a equipe.

Saindo um pouco do cenário profissional e indo para o universitário. Os jogadores que disputam competições entre faculdades pelo Brasil têm potencial de se tornar um pro player?

Creio que essa primeira geração ainda não, já que estão sendo os primeiros dessa nova modalidade, que é muito louvável por sinal. Mas, com os anos e com a estruturação das atléticas para isso, creio que em um prazo de 2 a 3 anos eles podem sim começar a transitar entre o competitivo acadêmico e o profissional.

Para quem sonha em ser jogador profissional, como ganhar visibilidade em um cenário cada vez mais disputado?

As regras básicas seriam: atinja pelo menos top 100 no servidor, não seja mono campeão, sempre tente expandir sua champion pool e pratique em outras rotas além da sua principal, o famoso “off role”.

Quanto mais você entende como as outras áreas do jogo funcionam, maior será seu conhecimento geral e se adaptar a um time fica muito mais fácil. Por último, mas talvez mais importante, NÃO SEJA TÓXICO. Jogadores de soloQ que ficam xingando os outros e etc, são a principal razão de serem negados e terem suas carreiras enterradas antes mesmo de nascerem. Conheço vários casos de jogadores que foram negados pelo seu histórico e depois vêm pedir chances.

 

Foto de capa: Riot Games Brasil

Total
0
Compartilhamentos
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

melhores cassinos online melhores cassinos online