A relação entre os esports e os clubes de futebol
Os clubes de futebol chegaram com tudo aos esportes eletrônicos e, ao que tudo indica, vieram para ficar. Porém, enquanto alguns parecem gostar dessa “invasão”, outros são contra ela. Mas afinal, por que a entrada dos times no universo dos esports seria um problema?
Antes de se aprofundar no assunto, vale ressaltar que de acordo com um infográfico divulgado pelo blog da ExpressVPN, o futebol é o esporte mais assistido online, e clubes como Corinthians e Flamengo, que estão inseridos nas modalidades eletrônicas, estão entre os mais assistidos nas plataformas de streaming. Isso mostra que os fãs estão conectados com as novas tendências e que há espaço para a integração dos clubes no ramo digital.
Dois lados da moeda
Em fevereiro de 2019, Marion Kaplan, conselheira do Flamengo, se revoltou com uma publicação que o perfil do clube fez nas redes sociais sobre uma vitória da equipe de League of Legends no campeonato brasileiro. Marion chamou o jogador em destaque da foto, o coreano Lee “Shrimp” Byeong-hoon, de “nerd da pior espécie” e disse que os esports eram um “símbolo do antiesporte”. A conselheira seguiu dizendo que o objetivo dela seria acabar com a modalidade no Flamengo, para que o clube se concentrasse em outros esportes, como o futebol feminino.
Já em abril deste ano, a Urubarons, torcida organizada do Flamengo nos esports, mostrou que a modalidade é séria e protestou em frente à sede do clube contra a gestão da divisão eletrônica, que na época estava sob o comando da norte-americana Simplicity Esports. O presidente da organizada, Richard Gomes, chegou a falar que a empresa estava “sujando” o nome do Rubro-Negro nos esports e exigiu o rompimento do contrato.
O protesto veio após diversas polêmicas envolvendo as modalidades Free Fire e League of Legends, que inclusive resultaram no fim da equipe do battle royale na época, que havia sido rebaixada para a Série C da liga brasileira.
Vale lembrar que em 2019, o mesmo ano da polêmica com a conselheira, o Flamengo viveu seu auge nos esports. O clube viu sua torcida lotar a Jeunesse Arena, no Rio de Janeiro, e assistir à equipe de League of Legends ser campeã do Campeonato Brasileiro (CBLOL) e ganhar vaga para representar o Brasil no Worlds, o mundial da modalidade.
O bom desempenho no jogo durou até o meio de 2020, onde novamente o Flamengo teve a chance de erguer a taça, mas foi parado na final pela KaBuM. Por outro lado, em 2022, teve uma campanha decepcionante na primeira metade do ano e sua vaga na liga acabou sendo vendida para a Los Grandes.
Apesar disso tudo, o Flamengo mostrou, mesmo por um período curto de tempo, que com apoio da torcida e boa gestão, é possível que um clube faça sucesso dentro dos esportes eletrônicos.
Outro time brasileiro que conseguiu se destacar nos esports foi o Corinthians. Com o elenco de Free Fire, garantiu o título do Free Fire Worlds Series (FFWS), torneio mundial da modalidade de um dos jogos mais populares do mundo. A conquista veio no Rio de Janeiro, em frente a milhares de torcedores que lotaram a Arena Olímpica na Barra da Tijuca.
Rival do Flamengo, o próprio Vasco é outro clube que investiu no esporte eletrônico e tem feito um bom trabalho. A equipe foi campeã da Série B da Liga de Brasileira de Free Fire (LBFF) em 2021 e com isso, subiu para a Série A. Em seguida, firmou parceria com a Black Dragons para dar início ao BD Vasco, time que foi campeão da C.O.P.A Free Fire.
Mesmo os times sendo figuras importantes no cenário competitivo, há outros exemplos que mostram como os laços entre futebol e jogos eletrônicos se estreitaram nos últimos anos. São os casos de Neymar e de Ronaldo Fenômeno, por exemplo. Ambos passaram a se dedicar às streams durante o tempo livre, transmitindo seus games favoritos para milhares de fãs ao redor do mundo. Além disso, Neymar é um fã convicto da FURIA, uma das maiores organizações de esports do Brasil, enquanto Ronaldo é membro da Tribo do Gaules, um dos principais expoentes do Counter-Strike no país.
O que esperar do futuro
Não há um veredito, porém o fato de que os esports não competem com os esportes tradicionais deveria ser o ponto de partida para torcedores e gestores. Assim, ao invés de tratar do velho dilema entre o real e o virtual, deve-se olhar pela ótica de que as novas modalidades surgem como novas opções de entretenimento, competição e prática esportiva.
Por outro lado, ainda há muito a ser melhorado no que diz respeito à gestão dos clubes tradicionais no contexto eletrônico. Uma das reclamações mais frequentes é a inflexibilidade de alguns dirigentes, cuja fórmula de décadas de experiência baseada na grandeza dos clubes parece não combinar com a modernidade dos jogos eletrônicos.
Existem prós e contras, sobretudo quando os grandes clubes não possuem gestões próprias no esporte eletrônico. Contudo, o aumento progressivo do desenvolvimento e dos investimentos de clubes, como os já citados Flamengo e Vasco, apontam para bons caminhos na esfera dos esports.