Ash: “Detenção dos direitos de imagem é hoje uma barreira grande para a narração”

ash entrevista

Uma das gratas surpresas do cenário de CS:GO, Charles “Ash” Silva conversou com nossa redação sobre sua carreira, as equipes brasileiras no exterior e os bastidores da narração.

Bem-vindo Ash. Você faz parte da “nova safra” de narradores de esports. Como foi a receptividade do cenário? Já considera a narração como uma profissão para você?

Um prazer enorme estar aqui! Quando comecei, foi uma recepção bastante confortável pelas pessoas que já trabalham no cenário, mas pelo lado dos espectadores foi tenebroso. Lembro até hoje que nos primeiros jogos na MIBRTV o chat extremamente ofensivo, até porque eu não era nada bom (não que hoje eu seja).

Sobre me considerar narração como profissão pra mim, hoje sinto que sim. Apesar de ainda ter de conciliar com o trabalho normal do dia a dia, hoje a narração já é uma segunda profissão pra mim.

Você citou o ponto dos espectadores. Como é narrar para a torcida mais fanática do mundo (MIBR)?

Eu ainda não narrei um jogo da MIBR, então acabava sendo torcidas mais espalhadas. Mas na MIBRTV mesmo, acabei narrando uma semifinal da FURIA na StarLadder e, sem dúvidas, a forma com que a torcida brasileira apoia as equipes brasileiras é insana.

Olhando para o cenário internacional, como você avalia a atual fase das principais equipes brasileiras?

A FURIA hoje está na fase de consolidação. Ela já é uma equipe de ponta, vem sempre forte para os campeonatos, mas a falta de títulos, principalmente em LAN, acabam deixando ela um pouco mais desacreditada pela maior parte da torcida.

Já a MIBR, que estava vindo de um início interessante com a entrada do TRK, mostrou nesse bootcamp na Europa que ainda está longe de chegar no nível que todos imaginávamos. Porém, a experiência que estão adquirindo, treinando com as melhores equipes do mundo, pode trazer resultados expressivos na volta aos Estados Unidos.

Voltando ao campo da narração, como é a preparação pré-jogo? Existe algum ritual, curso vocal, algo do tipo?

O pré-jogo eu imagino que varia de cada narrador, mas eu sempre tento me manter bem hidratado, como coisas mais leves e faço aquecimento 30 minutos antes de entrar pra primeira partida. Já durante a partida, eu sempre tento me manter o máximo hidratado possível, tomando muita, mas muita água mesmo.

O cenário de narração parece um campo já bem estruturado. Como ocorre o contato das organizações e existe uma tabela de valores padronizada?

Acho que o cenário de narração deu uma recuada na verdade. Como a detenção dos direitos de imagem hoje é uma barreira grande, acabam não sobrando tanto campeonatos e tantas oportunidades quanto poderiam.

Sobre o contato, geralmente quando você começa a se destacar, seja pela qualidade, seja pelo conhecimento ou até mesmo pelo esforço, acaba sendo indicado para organizações maiores e crescendo ainda mais. Acho que o fato de existir um bom network é fundamental pra quem quer começar ou crescer nessa área. E não existe uma tabela de valores, tudo depende da organização e do campeonato. Alguns campeonatos conseguem maior visibilidade, que por sua vez conseguem mais patrocínio, e aí aumenta a comissão.

Você citou a recuada no cenário de narração por conta dos direitos de transmissão. Acredita que esse ponto leva os profissionais a desistirem de investir no cenário e até mesmo buscar a migração para outros jogos?

Com certeza. O fato de existir ainda menos espaço e a oportunidades que aparecem já terem pessoas o suficiente, acaba não abrindo espaço para novos profissionais ou até mais velhos mas com menos visibilidade. Quando surgem novos jogos, como o VALORANT por exemplo, acabam abrindo-se mais portas.

Olhando para o cenário de CS:GO como um todo, você acredita que o modelo de liga pode ajudar a manter os profissionais no mercado ativo?

Eu apoio muito as ligas abertas. Acho que esse é um cenário saudável pro crescimento de equipes e jogadores que tem potencial e podem se provar jogando de igual contra todos e com possibilidade de subir. O maior exemplo disso é a DETONA, que foi uma equipe que cresceu tanto que se tornou uma das maiores do Brasil, vindo do zero.

Quando começam a existir ligas franqueadas, você acaba limitando as equipes que podem aparecer. Diminui a chance de aparecer novos nomes, apesar de existir mais estabilidade para as organizações.

Mas, para narração, as ligas são fundamentais. Eu mesmo comecei na liga feminina em 2019 e jamais imaginaria que chegasse em uma GC Masters e cs_summit em tão pouco tempo. A evolução pra quem começa é praticando o quanto mais.

Sobre o Major no Brasil, que foi cancelado nesse ano. Acredita que narrar uma partida nesse evento seria o ponto mais alto da sua carreira?

Narrar o Major é um sonho e seria o ápice da minha carreira, com certeza. Acho pouco provável que isso aconteça, pois ainda sou novo no cenário, ainda tenho muito caminho para percorrer para chegar em um evento desse nível.

Mas, aumentando ainda mais a sua pergunta, eu espero ver o BiDa narrando o Major, pois ele sempre foi referência no cenário de CS e seria legal demais vê-lo lá.

O escândalo do bug dos coaches pegou muitos grandes treinadores e equipes de surpresa. Com isso, como você imagina o futuro do cenário?

O escândalo do bug é um dos fatos que mais me preocupa atualmente, pois é onde realmente percebemos que a Valve parece não ligar mais para o CS. As declarações do Pita, onde mostrou que já havia reportado para a Valve sobre o bug em 2018, coloca muita reputação em jogo e é um ponto que me preocupa de uma forma gigantesca.

Já as vendas de resultado, são casos que acontecem muito em qualquer esporte tradicional, principalmente em níveis mais baixos. Mancham a reputação das organizações (quando tem, é claro), mas não afeta diretamente o cenário competitivo como um todo. É uma pena que em 2020 ainda tenhamos esse tipo de problema no cenário.

Qual a sua opinião sobre a cultura do sexto jogador? Acredita que muda totalmente o panorama dentro de jogo, visto que se tem mais opções táticas e de estilo de jogo?

Eu acho desnecessário haver um sexto jogador e vou muito de encontro ao que o Dead acabou falando. O sexto jogador, em algum momento, vai querer jogar, e aí começam os problemas dentro da equipe. Talvez a visão que a BOOM teve, por exemplo, trazendo Snowzin para ser o sexto jogador para pegar bagagem de uma equipe profissional, seja o ponto certo pra abordar isso. Você realmente criaria um jogador pro futuro, onde ele chegaria com uma certa bagagem lá na frente, mas como um jogador reserva, eu não vejo um sentido pra isso existir.

Acho que é isso Ash. Gostaria de mandar uma palavrinha para alguém?

Muito obrigado pelo espaço, sempre gosto de poder falar de CS e de alguma forma passar a minha visão para ajudar o cenário. Também gostaria de agradecer a todos que sempre me apoiam nas redes, vocês não fazem ideia do quanto isso dá ânimo e forças pra continuar.

Um agradecimento especial ao Xrm e ao Guizao, que foram as pessoas que sempre apostaram em mim desde o projeto da MIBRTV. Quem quiser me seguir nas redes, sou muito ativo no twitter @ashmanux e tem vídeo todos os dias no canal Wingman, no Youtube.

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