Babi Micheletto: “Quero inspirar outras mulheres a entrar no cenário de narração”

O The Clutch conversou com Babi Micheletto, uma das grandes revelações na narração de esportes eletrônicos de 2019, que tem como jogo principal o CS:GO. Ela nos contou sobre seus planos para 2020, as expectativas para o Major no Brasil e sobre a ajuda de FalleN para a viagem ao Girl Game Festival, em Dubai.

Você foi uma das casters de maior ascensão em 2019. Como define o seu ano e quais os planos para 2020?

Acho que eu definiria 2019 como uma surpresa. Isso porque comecei a narrar no final de novembro de 2018 e eu não esperava que iria ter um sucesso tão grande. Em menos de um ano consegui narrar diversos campeonatos e em várias plataformas diferentes, coisa que eu nem imaginava que poderia fazer em tão pouco tempo de narração.

Acredito que foi também um ano de recomeço porque eu era pro player de CS 1.6, mas no CS:GO acabei não me dando muito bem com o game. Mas, eu quis continuar acompanhando. Estudei muito as narrações brasileiras e com isso tentei seguir carreira nessa área. Acabou dando certo!

Para o ano de 2020 eu quero quebrar novas barreiras, explorar novas áreas e novos jogos, como Free Fire, FIFA, League of Legends, mas nunca deixando o CS:GO de lado. Quero focar mais nas minhas lives, apresentações de eventos e palestras, que inclusive tenho uma agendada para abril. Eu nunca tive um exemplo feminino no Brasil para seguir e me inspirar nesta área de narrações, por isso tento fazer meu trabalho da melhor maneira possível, para que eu possa inspirar outras mulheres a entrar no cenário de narração e comentários.

Você participou do reality Looking for a Caster. O quanto isso te ajudou no crescimento e desenvolvimento profissional?

O Looking for a Caster foi um desafio muito grande pra mim, pois eu nunca tinha jogado o Rainbow Six Siege antes, tanto que pedi ajuda para o meu padrinho, o Ricardo “qep”, que é caster de CS:GO e R6. Ele me deu várias dicas e disse para eu me inscrever na competição.

Então, comecei a estudar o jogo, montei até uma apostila, pois era muito difícil achar informações sobre o game em português e isso me deixava confusa. Eram muitos operadores e gadgets. Com essa apostila, estudei bastante sobre os mapas, operadores e toda a metodologia do jogo em si e enviei o vídeo de inscrição.

Depois que enviei, deixei um pouco de lado e pensei: se me chamarem é lucro (risos)! Até que recebi várias ligações do Rio de Janeiro. Era a Globo me informando que eu havia passado para a segunda seletiva, e então parti para o reality.

Tive que estudar muita coisa do R6 em um intervalo curto de tempo e depois que eu joguei, gostei muito do game porque até o momento eu tinha um certo preconceito por jogos diferentes do CS, mas acabei gostando bastante.

A minha passagem pelo reality foi breve, porém eu estive na gravação de todos os episódios e tive contato com os jurados e convidados especiais que já têm muita experiência na área. Peguei muitas dicas e isso somou bastante em questão de conhecimento e experiência.

Com o R6, não tive o prazer de trabalhar totalmente com ele, porque só narrei na inauguração da On e-Stadium em São Paulo, mas foi sensacional, pois tinham várias partidas e o showmatch era entre o pessoal já conceituado no game contra a platéia. Foi muito bacana e isso me agregou muita experiência.

Dentro de todos as modalidades, qual é a mais difícil para narrar?

Pra mim, com certeza são os jogos de MOBA, mais especificamente o Dota 2. Assim como o LoL, o Dota possui vários campeões diferentes, com builds diferentes, de acordo com o time adversário, além de depender muito do early, mid e final do jogo, pois você precisa se adaptadar conforme a partida. Tem que saber o nome das habilidades, saber contra quem você está jogando, quais são os counters. Tirando essa parte de builds e nomes dos heróis, fica mais tranquilo de fazer a narração das ações, do que acontece em cada rota.

Quais são as suas expectativas para o Major no Brasil e como isso pode impactar no cenário brasileiro de CS:GO?

Vai ser um momento de redenção desde a DreamHack Rio, que acabou não tendo muito sucesso. Além disso, o torcedor brasileiro é muito ‘quente’ e vamos fazer o pessoal de fora se sentir acolhido, sentir essa vibração que temos aqui. Esse evento é o momento ideal para ter mais visibilidade de investidores de fora do cenário do Brasil e até de empresas locais.

Também acho que isso pode gerar uma outra visão da família sobre os esports, pois é importante que a família incentive e dê suporte para seus filhos que querem entrar ou que já fazem parte desta área. Hoje em dia, os esports geram muitos empregos além de ser uma grande ferramenta social de inclusão.

Você citou a DreamHack Open Rio. Quais foram os pontos cruciais para o fracasso do torneio?

Eu estava com hospedagem, passagem e ingresso comprados, mas acabei desistindo depois da organização do torneio ter tirado várias modalidades do evento principal. Acabei achando que não iria valer a pena, tirando os outros fatores de organização que aconteceram no evento e prejudicaram o público que estava presente, além dos investidores do campeonato.

FURIA e MIBR são as principais equipes brasileiras no CS. O que você espera delas no Major? Acha que elas têm chance de vencer ou ainda estão longe demais de equipes como a Astralis?

Hoje em dia, a Astralis está em um nível muito alto, mas não é imbatível. Acredito que a gente pode trazer um título devido aos treinos incessantes dos brasileiros, fora o apoio da torcida brasileira.

A MIBR está muito forte com o meyern e estou muito animada pra acompanhar esse título brasileiro. Tenho certeza que teremos o título, só cabe saber se será da FURIA ou da MIBR.

Torcida brasileira no Mineirinho pela Esl One Belo Horizonte (Foto: Felipe Guerra)

Como está o crescimento do cenário feminino? Está acelerando ou ainda é devagar?

Acredito que 2019 foi um ano muito bom para as mulheres porque antigamente só existia o interesse pela área de pro player e hoje temos várias analistas, comentaristas, narradoras e apresentadoras. Acho que estamos cada vez mais ampliando o quadro de profissionais nessas áreas dentro dos esports.

Você e a nanda estavam fazendo uma campanha para poder narrar presencialmente o Girl Gamer Festival, em Dubai. Quais são as suas expectativas sobre a INTZ no torneio?

Eu e a Fernanda Piva acompanhamos todo o potencial das meninas durante os classificatórios e temos essa certeza que é uma das favoritas a levar o título pra casa. Assistindo as partidas dos qualificatórios das outras regiões, vimos que as equipes lá de fora têm uma deficiência no uso de utilitários e isso pode ser uma grande vantagem para a INTZ, pois elas estão muito bem encaixadas e com um jogo coletivo muito forte. Creio que elas consigam sim trazer esse título inédito para o Brasil.

INTZ venceu o qualify brasileiro e carimbou vaga na Girl Game Festival (Foto: Divulgação)

Quanto à campanha, fizemos toda a cobertura do campeonato do início ao fim e achamos justo fazer isso devido ao fato que nunca tivemos essa representação brasileira em um campeonato lá fora, uma transmissão oficial em português diretamente do campeonato.

Já está tudo certo com a organização do Girl Gamer Festival, falta apenas um pouco do valor para estar 100%, mas em uma conversa com o Gabriel “FalleN”, ele comentou que vai ajudar a arrecadar essa quantia restante com suas streams.

Qual a sua projeção para o cenário feminino em 2020 e qual a importância de jogadores conhecidos, como o próprio FalleN, no crescimento desse cenário?

A paiN teve 2 anos consecutivos de sucesso, sendo campeãs em tudo e dominando a cena, mas o cenário vem crescendo e agora aparecem novas garotas que estão dispostas a treinar e se dedicar. Tanto que hoje, elas [paiN] não são tão imbatíveis assim e inclusive perderam no qualificatório do Girl Gamer Festival, mostrando que o estilo de jogo mudou e que tem gente que está conseguindo bater de frente com elas.

Acredito que para o cenário feminino se consolidar e aparecer novos investimentos, as lines deveriam ser mais constantes, pois há poucas equipes que fecham o ano com seus elencos completos, assim como a paiN, que teve poucas mudanças. Mas, ainda é muito complicado, pois o cenário ainda é muito menor que o masculino, o apoio é inferior, assim como o salário, o que dificulta no fechamento de um contrato.

Sobre caras como o FalleN, eles são inspirações para o cenário e visionários, como o projeto FalleN e Amigos, que ajuda a inclusão de pessoas especiais no jogo. Esse tipo de apoio é fundamental e chama atenção de outras pessoas que poderão incentivar e investir nos esports em si, além de gerar uma visão positiva. Vejo que todos podem crescer muito com isso.

Verdadeiro mais uma vez incentivando o crescimento do cenário (Foto: ESL)

Para as meninas que querem entrar no cenário, tanto como casters quanto como jogadoras, quais os conselhos que você daria e quais barreiras elas vão enfrentar?

Pra mim a dica é: vai! Tem que ter uma atitude, um início. Pra quem quiser ser jogadora, existem vários métodos de se inserir no meio competitivo e de treinar. Já existem vários campeonatos, e por mais que todos saibam que ainda vai existir preconceito e barreiras por ser mais complicado, a dica é seguir em frente. Todo mundo recebe hate. Temos que responder esse pessoal que é contra o trabalho das mulheres com estudo, dedicação e mostrar conhecimento de jogo.

Quanto à narração, não tem jeito, você terá que assistir horas e horas de jogo, assistir narrações daqui do Brasil e de fora, pegar os timings de quando saber hypar a partida, quando fazer uma brincadeira. É pegar o feeling da coisa. Tem que treinar bastante e sempre assistir a sua própria narração para se desenvolver.

Quem tiver alguma dúvida, pode entrar em contato comigo, pra fazer alguma parceria e pegar dicas, porque quanto mais mulher se dedicando e se interessando, é melhor pra gente e pro cenário em si, pois acredito que não deva ter divisão de sexos quanto a isso, somos tão capazes quanto os homens.

Para finalizar, deixamos este espaço para você fazer seus agradecimentos.

Primeiramente, muito obrigada pelo espaço, espero que essa entrevista sirva de inspiração para alguém que queira entrar nesse meio, principalmente para as garotas. Quero agradecer também ao meu noivo que sempre quando preciso fazer algum trabalho presencial, ele cuida do nosso filho, o Caíque, que é a minha inspiração pra tudo. Todos os sacrifícios, os trabalhos e os momentos que eu deixo de ficar com ele, é tudo para ele mesmo, é por ele que eu estou aqui. Comecei a narrar quando ele tinha 3 meses e no começo foi bem complicado dividir o tempo, mas dedico todo meu sacrifício ao meu filho, o amor da minha vida.

Também agradecer aos meus pais, que no início não entendiam tanto o porque de tanta dedicação aos games, mas que agora têm uma visão mais diferente sobre o assunto, sempre me assistem nas transmissões e gravam minha narração para me mandar depois (risos).

Agradecer também ao Ricardo “qep” e ao Luis “Savage”, pessoas que eu sempre posso contar, tirar minhas dúvidas, aos casters e jurados do Looking for a Casters, onde arrumei muitos amigos, como a Camilla “Milla”, o Victor Stoker, além do pessoal da Beyond The Summit, primeira empresa que apostou no meu trabalho e me deu total suporte.

Obrigado também ao pessoal da Gamers Club, na qual sou caster oficial, da BBL que sempre me traz novos desafios, ao Guilherme “GuizaO” que me deu oportunidade de fazer parte da lista de casters da MIBR, além de todos que me ajudaram nessa caminhada até aqui.

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