Opinião: Como reestruturar a 00Nation

Foto: Reprodução/00Nation

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Cairo Barbosa é historiador e professor. Apaixonado por Counter-Strike desde 2001, acompanha o cenário profissional de CS:GO e às vezes se aventura em análises de dados, times, partidas, torneios e jogadores. Sempre aberto às críticas.

00 vitórias

Em outro texto aqui mesmo no The Clutch, escrevi, em setembro de 2020, sobre os caminhos e possibilidades para a reconstrução da então equipe do MIBR após as saídas traumáticas de FalleN, fer, TACO e dead da organização.

Tempos depois, kNg e trk, os remanescentes do time que se desfez, se juntaram a vsm, leo_drk, HEN1, LUCAS1 e, por último, fer na tentativa de montar um ‘core’ forte o suficiente para brigar no cenário tier 1 mundial.

A situação atual, entretanto, é muito diferente da que se imaginava. Desde que assinou com a norueguesa 00Nation, o time não conseguiu atingir as expectativas e vem decepcionando a torcida apaixonada.

Últimas partidas (Foto: HLTV.org)

As últimas notícias indicam que mudanças importantes devem acontecer. A equipe desistiu de participar da Funspark ULTI 2021: Europe Season 4, e com isso, aumentaram as especulações sobre possíveis mudanças no time.

Já na terça-feira (25/11) pela manhã, kNg, em sua conta no Instagram, interagiu com alguns torcedores. Em diversas respostas, o capitão indicou que, de fato, haverá reformulação no time e na comissão técnica.

Foto: Reprodução/Instagram

Da produção e publicação do texto até o momento que você lê essa opinião, inclusive, podem surgir mais notícias sobre as movimentações da organização.

Fica a pergunta: que mudanças são necessárias para tornar o projeto vitorioso?

Como as situações no CS:GO brasileiro parecem ser cíclicas, estou aqui novamente para falar sobre “reconstrução”.

A nova line: em busca de capitão e treinador

Dia desses, numa conversa nas redes sociais, um torcedor defendeu a ideia de que falta a essa line da 00Nation algumas “miras jovens”. Discordei prontamente por dois fatores: primeiro porque leo_drk e vsm são muito novos e têm miras “adolescentes”, como costumamos dizer. Depois porque, na minha visão, o problema do time não é mira, mas sim a falta de organização tática e ausência de confiança.

De qualquer forma, está mais do que evidente que haverá troca de jogadores. Ao que tudo indica, fer deve deixar o elenco para se juntar a FalleN e coldzera em um novo supertime brasileiro (assunto para outro texto).

Partindo do princípio de que kNg, trk, vsm e leo_drk vão se manter no projeto, será necessário adicionar apenas um quinto player. Aí entra a primeira questão: o time hoje tem um repertório tático pobre, frágil e totalmente previsível. Como na época em que chegaram à Europa e bateram de frente com Astralis, FaZe e etc., a forma como jogam baseia-se, antes de tudo, em intuições e mira. O fato de um dos slogans da equipe ser “troca tiro” não é mero acaso.

É preciso adicionar um IGL capaz de estruturar a equipe e liberar kNg para exercer seu estilo de jogo como AWPer. Olhando o cenário, há poucos nomes disponíveis para a função. A primeira opção seria steel, que atualmente está sem clube (especula-se que o jogador pode se juntar a Case Esports). O player foi responsável por organizar a Movistar e colocá-los no top 30 do ranking da HLTV. Experiente e rodado, poderia ser a peça que falta na engrenagem.

Outra opção seria drg, que recentemente deixou a Havan Liberty, ou tentar contratar jogadores que estão em equipes em boa fase, como PKL e jnt.

Estatísticas da Movistar em 2021 sob a batuta de steel (Foto: HLTV.org)

Contudo, não basta acrescentar esse quinto elemento. O time precisa contratar um coach de ofício. Sabe-se que cogu é fundamental para o funcionamento da equipe, mas é fato, também, que ele tem agregado pouco no sentido tático. O time evoluiu quase nada nesse quesito ao longo do ano. A melhor opção, ao meu ver, seria adicionar righi, ex-coach da Team One que hoje é o responsável direto pela ascensão meteórica da Finest, que subiu mais de 20 posições no ranking da HLTV no último mês (atualmente é 39º). Outros bons nomes que poderiam agregar são zakk (9z) e sidde (Havan).

Com o time remodelado a partir de uma nova estrutura tática, baseada na compreensão in-game de um capitão de ofício, um coach de qualidade e até com a ajuda de cogu (que pode ser manager/assistent coach) e de um analista, o primeiro passo para a retomado seria dado.

Da Europa para a América do Norte

Muita gente vai discordar, mas, na minha visão, a melhor opção para o time hoje é migrar para o cenário norte-americano e buscar uma retomada gradual. Foi esse o caminho escolhido por outras equipes brasileiras que hoje se apresentam bem no cenário mundial: GODSENT e paiN.

Estatísticas da GODSENT em 2021 (Foto: HLTV.org)

É preciso pensar menos no nível dos adversários e mais na confiança que é necessária adquirir aos poucos. Utilizando o futebol para fazer uma analogia, antes de tentar encarar o Flamengo, o Palmeiras e o Atlético-MG, seu time tem que ser capaz de ganhar da Chapecoense, do Vasco e do Sport, por exemplo, não apanhar deles. Ser saco de pancadas nos tiers 2 e 3 no cenário europeu, mais do que ensinar e fazer o time evoluir, corrói a confiança e a autoestima dos jogadores. Todas as equipes brasileiras que passaram por isso nos últimos anos enfrentaram problemas emocionais significativos e, em alguns casos, chegaram a dar disband (caso do próprio MIBR em 2019).

Com a line e a comissão técnica novas e a estrutura remontada, o time vai precisar reiniciar todo o trabalho literalmente do zero. Nada melhor do que fazer isso, a princípio, contra times bem mais fracos e de menor nível, para que progressivamente a organização tática e as ideias de game possam se desenvolver. Assim, o time vai se ajustando e restabelecendo a química que parece ter se perdido, sem precisar passar por tantas derrotas traumáticas e vexatórias. Vejam o exemplo do novo MIBR: de favorito à vaga no Major pelo qualify sul-americano a derrotado pela Sharks, a equipe passou por uma reformulação de jogadores, mudou o estilo tático e hoje encontra-se baseada no México, participando das ligas inferiores da ESEA para retomar a confiança e reconquistar a vaga no top tier.

Humildade é fundamental nessas horas. Dar um passo atrás para dar dois à frente depois. Com a melhora da situação da pandemia, a tendência é que o cenário norte-americano retome a força. Por lá, a 00Nation pode se estabelecer como um time tier 1 e pegar vagas em torneios mundiais. Em alguns momentos do ano, pode realizar bootcamps na Europa em busca de maior evolução. E assim, aos poucos, retoma-se a esperança.

Emocional

Não se pode deixar de considerar importante a contratação de um profissional de psicologia para acompanhamento cotidiano da equipe. O time hoje se mostra bastante frágil do ponto de vista mental. Aquele hype de outrora deu lugar a declarações desanimadas e discursos conflitivos.

Inegavelmente, os melhores times do mundo têm aporte psicológico hoje. Essa é uma marca da era profissional nos esports. Em entrevista ao site HLTV antes do Major, Boombl4, capitão da NAVI, declarou o seguinte: “Temos dois psicólogos, Gleb e Marina, e estamos trabalhando para ter uma mentalidade forte. Isso é ótimo porque passamos mais tempo como equipe, tentando entender as fraquezas de cada jogador e tentando ajudar cada jogador.”

NAVI campeã do PGL Major Stockholm (Foto: HLTV)


Na tradição do CS:GO “raiz” brasileiro, o psicólogo são gritos, empurrões, alvoroço e “palmas”. Esse tempo já passou. Hoje o cenário é outro. É preciso caminhar em direção à profissionalização, sob pena de ficar para trás.

O time pode voltar ao topo?

Não tenho dúvidas. Em relação ao nível individual de cada um, a 00Nation tem uma das melhores lines brasileiras no mundo hoje. Pelo que já mostraram e pelo potencial que têm, acredito que o time pode chegar ao patamar alcançado pela FURIA, por exemplo, destacando-se como uma equipe top tier no NA e que figurando sempre entre as 30 melhores equipes do mundo no ranking da HLTV.

Para isso, porém, é preciso ter calma, paciência e pensar bem nos próximos passos. O CS:GO brasileiro é conhecido pela inconstância e pela volatilidade justamente porque, nas crises, os pensamentos são sempre de “terra arrasada”, que “nada serve” e que é preciso “jogar tudo no lixo”. Não pode ser sempre assim. Precisamos evoluir e acreditar nos projetos a longo prazo. A maior parte dessa line, sob as tags MIBR/O PLANO, fez partidas incríveis contra excelentes times e encantou a torcida brasileira.

O que faltam agora são ajustes pontuais, mas fundamentais. Resetar a cabeça no fim de ano e retomar a jornada com tudo em 2022. Eu acredito! E você?

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