O The Clutch conversou com Airini Bruna, psicóloga que atua na área de esports e trabalha junto a grandes organizações do cenário nacional. Entre diversos assuntos abordados, falamos sobre a importância do trabalho em equipe e o quanto um acompanhamento com um profissional da área gera impacto em uma equipe.
Para quem ainda não a conhece, quem é a Airini e em que momento passou a trabalhar com esports?
Sou psicóloga formada pela Universidade Cruzeiro do Sul e atualmente faço especialização em Psicologia do Esporte e da Atividade Física pelo Instituto Sedes Sapientiae. Ao longo da minha graduação, conheci o League of Legends através do meu namorado, comecei a jogar e acompanhar o cenário e então descobri que tinham psicólogos atuando com as equipes.
No primeiro ano da especialização, em um dos aprimoramentos profissionais que temos que cumprir, o Claudio Godoi, que estava na INTZ, abriu duas vagas para atuar com as equipes, e nesse meio tempo, a Redemption POA tinha acabado de estabelecer uma parceria com a INTZ. Diante desse cenário, o Claudio nos deixou trabalhando com a equipe.
Com a subida da RDP para a liga principal, as duas equipes se separaram e com isso a Redemption quis permanecer com o serviço de psicologia, e por indicação do Claudio, fecharam o contrato.
Além da equipe de LoL da Redemption, também trabalho com a equipe de CS:GO da W7M e com a equipe internacional de CS:GO da INTZ.
Como tem sido a sua experiência atuando no ramo e quais os problemas mais comuns que você encontra?
A experiência é muito boa, já aprendi bastante coisa desde que comecei a atuar com as equipes das modalidades de LoL e de CS:GO.
O que percebo em comum são os problemas referentes a rotina da equipe, porque muito dos players jogavam por lazer antes, e as vezes é difícil fazer com que eles compreendam a transição do lazer/entretenimento ou amadorismo para o profissionalismo. Outro problema peculiar da área de esports é em relação ao desgaste de convivência, por conta do esquema de gaming house.
Fora isso, os problemas que surgem não são algo exclusivo do esports, mas sim de modalidades coletivas em geral, que é a dificuldade na comunicação durante jogo ou treino, dificuldade em lidar com a frustração, etc.
De que maneira você trabalha com a equipe e que pontos busca aprimorar?
O primeiro passo é entender qual modalidade o atleta está inserido e em cima disso compreender quais são as habilidades psicológicas necessárias para um bom rendimento. Isso pode ser observado nas equipes durante os treinos e jogos. Em cima disso, montar um planejamento de como serão feitas as intervenções individuais ou com o grupo para aprimorar essas habilidades.
Os jogos eletrônicos no geral influenciam bastante o lado emotivo do jogador, qual a melhor forma de lidar com esse sentimento?
A melhor forma para lidar com os sentimentos é fazer com que os atletas entendam cada um deles e entendam em quais situações eles costumam aparecer, como por exemplo em um jogo em LAN ou em um round que estejam perdendo. Depois desse processo, é importante ensiná-lo a lidar com o sentimento ao invés de ignorá-lo.
As pessoas têm uma ideia errada sobre a ansiedade, que nem sempre é algo negativo. Em determinadas situações, ela serve como uma ativação para que o atleta esteja preparado para lidar com o que estiver por vir. Mas, em casos que ela prejudica, são ensinadas técnicas de respiração e de relaxamento para que o atleta fique mais tranquilo e focado.
É normal encontrar jogador de esports com depressão? Como agir nesse tipo de situação?
Na minha experiência dentro do esports ainda não me deparei com uma situação com essa, mas tudo é possível. Em casos como esse, cabe ao psicólogo do esporte fazer um encaminhamento para um psicólogo clínico, e dependendo do caso, para um psiquiatra e fazer um acompanhamento interdisciplinar com esse atleta.
Nos eventos em LAN há sempre mais pressão sobre os atletas. Como preparar uma equipe para campeonatos assim?
Em casos como esse, a atenção e concentração são pontos que precisam estar desenvolvidos para que o atleta consiga ter um bom desempenho. Para isso, são utilizados testes e instrumentos que avaliam esses aspectos, e são elaboradas estratégias para desenvolver cada uma delas, como as técnicas de treinamento mental.
Além disso, nos grupos é possível fazer atividades que tenham a simulação da experiência de LAN para que aos poucos eles aprendam a lidar com a pressão que existe.
A MIBR durante meses não teve um apoio externo, um profissional que pudesse ajudar e entender um pouco sobre o lado mental da equipe. Com o anuncio recente de um psicólogo, quais devem ser as primeiras mudanças a serem vistas?
Muito difícil falar sobre as mudanças que serão visíveis porque cada profissional trabalha de um jeito. Mas acredito que uma das principais etapas iniciais é compreender o papel de cada um dos atletas dentro do time, compreender a relação que existe entre os atletas hoje e e fazer com que tenham uma boa coesão de grupo. Depois disso, focar em aspectos que trabalhem o alto rendimento, como concentração, atenção, resiliência, lidar com a frustração, etc.
A Astralis criou uma dinastia no CS:GO ano passado e a Team Liquid domina o topo atualmente com maestria. Por trás de ambas as equipes, há profissionais que cuidam da parte mental dos atletas. Na sua opinião, qual o nível de influência que um psicólogo tem sobre esses resultados?
Acredito que o psicólogo tem um papel importante, assim como toda a equipe técnica (coachs, analistas, manager, etc.), mas quem é responsável por colocar em prática o trabalho que é desenvolvido ao longo do tempo são os próprios atletas. O trabalho só tem um retorno positivo se todos desempenham os seus devidos papeis dentro da organização, ou seja, o psicólogo tem o papel de fortalecer a mente dos jogadores, deixando-os preparados para lidar com as situações adversas, mas não existe uma garantia de que isso acontecerá como planejado ou não. Mas o fato de ter alguém para desenvolver esse trabalho é muito importante.
Muito obrigado pela sua participação Airini. Gostaria de deixar um recado para alguém?
Primeiro queria agradecer minha mãe e meu namorado por sempre me apoiarem. Segundo, agradecer a Adriana Justino e Mariana Freitas, que foram as psicólogas que me ensinaram tudo o que eu sei sobre a Psicologia do Esporte. Quero agradecer a coordenação do curso do Instituto Sedes por proporcionar experiências em campo para os alunos do curso, como o aprimoramento dentro da INTZ. Também agradeço ao Claudio Godoi, que foi o meu “mentor” dentro da área e deu todo o suporte que eu precisava durante o tempo que me acompanhou com a equipe da Redemption.
Para finalizar, gostaria de agradecer a Redemption POA, W7M Gaming e a equipe internacional de CS:GO da INTZ por acreditarem no meu trabalho e permitir que eu faça parte da equipe.
Foto de capa: BBL e-SPORTS