Conheça Gio, o multi-homem do Counter-Strike competitivo

Quem acompanha o cenário de CS:GO por meio das streams brasileiras, já deve estar acostumado com a presença de Giovanni “gio” Deniz, que é comentarista e analista durante as transmissões de campeonatos. Além disso, o ex-jogador atualmente é coach e também professor na Games Academy, onde ajuda os alunos com diversas jogadas e táticas novas.

Gio comentarista
Bczz e gio analisando a partida NiP x C9 durante a ESL One (Foto: Reprodução/Twitch)

Tivemos o prazer de conversar com essa fera do Counter-Strike, que faz de tudo um pouco, e é um dos maiores impulsionadores do cenário competitivo.

Como você conheceu o CS e qual o impacto ele teve na sua vida?

Bom, conheci o CS através do meu irmão em 2003. Nós jogávamos RPG na época das lan-houses e em algumas idas deles com alguns amigos de escola, descobriram o CS 1.5 nos mods de Half-Life e ele me apresentou. O impacto é gigantesco, fiz muitos amigos, conheci muita gente, aprendi um pouco de inglês no jogo e entendi um pouco mais de estratégia, planos de jogo, que uso pra outras áreas na vida.

Muitas pessoas tem interesse em funções dentro do jogo (coach, pró-player, analista, narrador, comentarista), porém não sabem como iniciar o trabalho e acabam desistindo. Qual a sua orientação para que elas tenham sucesso nessas áreas?

A primeira coisa que recomendo é que se qualifiquem e criem conteúdos. Se quer estar em transmissões, pratique sua dicção. Pratique em casa e grave demos pro YouTube, narrando, comentando, analisando, etc. e divulgue. Todo trabalho precisa ser lapidado, então tem que insistir bastante. Uma hora você vai estar no nível de alguma transmissão e daí em diante é a sua evolução que conta.

Você já jogou CS:GO profissionalmente, mas optou por virar coach. O que te motivou a tomar essa decisão?

O que me fez optar pela condição de coach foi sentir que eu teria uma chance de estar num time de alto nível e agregar com eles o que eu não estava agregando no meu time, na época. Os jogadores que estavam na minha equipe não tinham dedicação, não abriam uma demo, e vi uma oportunidade de ter o meu conhecimento aproveitado. Consegui aprender bastante e senti que eu tinha mais espaço pra evoluir.

Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou sendo coach?

A maior dificuldade sendo coach é que você dificilmente é valorizado. Se o time ganha, mérito total dos jogadores, se perde, é culpa do coach que não soube usar o pause, etc. O salário é menor, a premiação é menor, o trabalho é maior e o reconhecimento é menor também. Mas aos poucos, estamos conseguindo mudar esse sistema pros treinadores.

O CS:GO é um jogo que envolve muita emoção, onde muitas vezes a ansiedade pode atrapalhar o time. Sendo coach, como orientar os seus jogadores em relação a isso?

Pra fazer um time andar na linha é importante saber a forma de falar e a hora de falar. Ansiedade é natural do ser humano e principalmente quando se está perto da vitória. O time tende a ser mais displicente por pura confiança, e aí temos que dar um choque de realidade sem ofender e dar uma injeção de ânimo, de modo a fazer com que o time realinhe o pensamento. É importante estudar um pouco de comportamento humano, porque cada pessoa lida diferente com uma frase e é importante saber conquistar a confiança de cada um pra no momento de ansiedade, eles entenderem e aceitarem o que você fala.

O Brasil está cheio de grandes talentos, no entanto a falta de profissionalização dos eSports, e até mesmo a reprovação de parentes e familiares, atrapalham estes atletas a seguirem em frente. Como combater isso?

A profissionalização é lenta, mas está acontecendo. Algumas empresas tem que entender que não se pode ver um mercado caminhando de modo lento e investir pouco. Temos exemplos no League of Legends, Rainbow Six, que em vez de entrarem com investimentos módicos, entraram com tudo, investindo o que podiam, dando estrutura, contratos, e obviamente que tem apoio das desenvolvedoras, mas no geral traz mais retorno porque você consegue criar ídolos.

No CS, as empresas veem o mercado lento e em vez de investirem alguma coisa, querem investir só o nome da equipe, de modo a “ter só por ter” e esse tem sido o grande problema do crescimento. Mas felizmente, temos muita gente interessada que trabalha diariamente para o crescimento do nosso cenário, mesmo sem receber nem um centavo por isso. E é graças a isso que temos conquistado tanto espaço.

A melhor forma é o investimento massivo de tempo e um investimento razoável de dinheiro. O desinteresse é o maior problema.

Hoje existe um debate sobre o que é melhor: Gaming House ou apenas treinamento online. Na sua visão, qual dos dois métodos ajuda mais a equipe?

Ambos os métodos ajudam a equipe. Acho que Gaming House é boa porque você está do lado do seu parceiro e consegue fazer isso fluir da melhor maneira. Você aponta o erro e já corrige ali na hora. Na internet, tem um espaço de tempo maior, então fica um pouco mais lento. Mas ambos são efetivos e tem seus prós e contras.

O cenário brasileiro passa por frequentes mudanças nas equipes, o que atrapalha tanto o crescimento dos jogadores, como dos times. De que maneira um coach pode ajudar a diminuir esse intenso fluxo de transferências?

Um coach não tem tanta influência nas decisões pessoais de cada jogador, mas o que eu, pelo menos, sempre tentei deixar claro é que todo trabalho precisa de continuidade pra dar certo. É também necessário criar vínculos com o clube, de maneira que o time consiga entender o lado profissional da coisa.

O cenário “profissional” de CS no Brasil ainda é muito amador. As equipes não tem contrato e com isso não conseguem segurar seus jogadores, que saem pra outras equipes que pagam 200 ou 300 reais de “salário”. E não são 200 ou 300 a mais. São só 300 reais! Então, você vê jogadores aceitando mixaria e organizações explorando cada vez mais as equipes.

As equipes que tem contrato com multa rescisória dão estrutura e investem tempo. Além do dinheiro, conseguem ótimos resultados. Vemos os times da Team oNe, Furia, En9my e a antiga Bootkamp, que agora é W7M, como exemplos. São times que trocam muito pouco de lineups e tem conquistado resultados expressivos. A paiN quando investiu no CS nacional também fez um trabalho muito bem feito e conseguiu resultados excepcionais.

O Victor “iDk”, da T1, nos disse em entrevista recente que a maior dificuldade de enfrentar times do cenário internacional é por conta da organização que eles têm e pelo fato de errarem (taticamente) muito pouco. O que acha que falta para evoluirmos o cenário nacional nesse aspecto?

Eu concordo com o iDk, mas o grande problema é que sem continuidade nas equipes, devido aos problemas que citei anteriormente, você não consegue evoluir um time. E se as equipes não tem evolução, dificilmente o cenário terá. Tendo continuidade nos trabalhos, tudo flui melhor.

O Yuji (ex-Bootkamp) além de jogar, precisava de um trabalho convencional. Você consegue viver só do que faz dentro do game ou também precisa de algo “de fora” para complementar a renda?

O Yuji é um exemplo de muitos outros que acontecem no nosso cenário. Particularmente, eu vivo só de eSports hoje, mas eu trabalho muito mais do que trabalharia num emprego comum. Tenho uma equipe pra treinar, gerencio conteúdos pro portal de aulas da Games Academy, faço trabalhos como comentarista e analista, então não é simplesmente viver só de um salário de uma única empresa. Tenho que estar em todas as pontas pra conseguir me manter desse meio.

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