Diversas atletas ascenderam profissionalmente no início do mês de fevereiro após o anuncio da Riot Games permitindo a inscrição de mais um time por organização, sendo este exclusivamente composto por mulheres.
Além disso, ainda em fevereiro, a comunidade do jogo se sensibilizou e mobilizou esforços para aprimorar a premiação do campeonato semanal feminino, que teria o valor de R$ 300. A mobilização culminou em uma arrecadação total de R$ 15 mil. Isso, inclusive, exigiu a reconstrução do torneio e assim surgiu o Women Community Festival 2021, organizado pela Call Esports.
Através do WCF 2021, diversas equipes femininas tiveram mais uma oportunidade de brilhar diante a comunidade. Não apenas grandes times já reconhecidos, como INTZ Angels, Havan Liberty Feminina e Gamelanders Purple, como também equipes de mulheres sem organizações, que demonstraram muito serviço em jogo, como LadiesAIM, DreamTeam e Number 6.
Por conta disso, entrevistamos algumas personalidades do cenário e trouxemos um pouco das bagagens que elas carregam e suas prospecções sobre o presente e o futuro do cenário de VALORANT.
Para Carolina “Shizue” Miranda, da INTZ Angels, que veio do League of Legends, brincar de VALORANT fez perceber que tinha gosto pelo jogo de tiro, e após notar seu excelente desempenho, acabou conseguindo uma oportunidade com a INTZ ao vencer o campeonato Girl Pwr VALORANT, no ano passado.

Ela ainda contou que se sente lisonjeada por jogar em sua atual organização e afirma que “muitas meninas ficariam felizes por conseguir uma organização de nome muito conhecido no competitivo dos esportes eletrônicos. Então, eu quero mostrar que eu sou capaz de honrar esse nome”.
Já Paola “DRN” Faíscas, se dedica a competir há pelo menos 8 anos. Ela sempre assistiu muitos campeonatos e tudo que queria era estar ali entre eles (os competidores).

A atleta contou exclusivamente para o The Clutch que a emoção e a adrenalina de ganhar ou perder um round é uma das sensações que mais gosta. Ainda confessa que “você passa semanas treinando para um único momento decisivo” e que “a sensação de vencer algo assim é emocionante”.
Para DRN, no momento atual, o que ela quer é aprender e absorver o máximo que puder com a equipe toda da Gamelanders e representar tudo que eles têm proporcionado para atleta da melhor forma possível. Atualmente, ela consegue se dedicar como nunca antes ao jogo e no tempo livre, também está trabalhando em suas streams.
Ainda sobre a Gamelanders, tivemos a oportunidade de entrevistar Ana Beatriz “Naxy” Ackerman, da Gamelanders Purple, que contou um pouco sobre suas expectativas, sobre o time e sobre a ascensão das mulheres no cenário.

Para Naxy, estar na Gamelanders é uma oportunidade incrível: “É um sonho para mim. Já passei por organizações grandes e que me abriram muitas portas, mas a Gamelanders é algo diferente para mim. É uma organização que admiro muito por tudo que eles já construíram no VALORANT, e poder fazer parte dessa história é muito gratificante. Me sinto acolhida e ao lado de pessoas maravilhosas aqui dentro, e isso só me dá mais gás para me dedicar e competir.”
Perguntamos também à atleta sobre o que ela acredita que poderia ser feito agora para diminuir a diferença de acesso a oportunidades nos esports.
“Acredito que isso é algo muito delicado. Não consigo resumir tudo em tão pouco, mas ter o apoio do cenário e organizações investindo em mulheres – não digo só para competir profissionalmente, mas também em casters, managers e coaches mulheres – abrirá mais espaço para que todas nós possamos nos sentir mais acolhidas e obviamente ter a oportunidade de competir e trabalhar de igual para igual”, comenta Naxy.
Jogadoras sem organização
Entrevistamos com exclusividade as atletas Antônia “AntG” Garcia (DreamTeam), Tamires “Badgal” Araújo (LadiesAIM) e Juliana “Lya” Ricetti (Number 6), que são de equipes que obtiveram desempenho notório no WCF 2021, mas ainda estão sem organização para representar.
Para AntG, a inserção no competitivo começou no Point Blank alguns anos atrás, quando frequentou campeonatos pequenos. A atleta conta que sempre gostou de competir e que seu pai sempre lhe disse que tinha muito potencial.
“Comecei a jogar CS:GO casualmente e quando lançou o VALORANT eu tive interesse em investir no cenário, já que o mesmo estava começando”, contou antG.

Perguntamos à ela sobre as expectativas em relação à carreira profissional, e ela disse: “Espero que meu time receba reconhecimento pelo que estamos fazendo, porque largamos muitas coisas para focar no game. Espero que as organizações forneçam mais oportunidades pra gente poder mostrar do que somos capazes. Individualmente, eu espero ainda receber destaque nos campeonatos, ser reconhecida pelo meu esforço e dar resultado principalmente pro meu pai”.
Já Badgal, jogadora do time LadiesAIM, contou em seu Twitter que fez uma difícil decisão: abriu mão do curso que fazia para focar em sua carreira de jogadora profissional. Ela ainda não se considera uma jogadora profissional, pois não tem um contrato, mas segue em busca do sonho
“Eu não tinha pretensão de tentar jogar profissionalmente. Inicialmente, eu jogava só por diversão, mas foi surgindo uns campeonatos femininos e eu fui participando e acabei gostando da sensação que causava. Agora, estou em busca do sonho de um dia me tornar profissional”, contou Bagdal.
Jogadora do time Number 6, Lya acredita que VALORANT será um dos maiores cenários competitivos, por ter juntado muitos jogos diferentes, além do apoio imenso que a Riot dá.

Ela contou ao The Clutch que começou a se envolver no cenário competitivo de FPS com o Counter-Strike: Global Offensive, em 2019. Mesmo com pouca experiência, entrou em um time e começou a estudar muito o jogo, criando assim um interesse em jogar competitivamente.
Com o lançamento do VALORANT, o interesse de Lya pela competição cresceu ainda mais, principalmente pelo jogo ser algo novo e ter muito espaço. “Migrei para focar 100%”, afirmou a atleta.
Lya e o seu time estão à procura de uma organização para se consolidar no cenário. Ela nos contou que tem treinado muito e que estão se mantendo firmes mesmo diante dos obstáculos. “Mesmo com altos e baixos, nos mantemos unidas e com o objetivo de conquistar os próximos campeonatos”, disse.
Ações e palavras de incentivo
No dia 23 de fevereiro, a Riot Games apresentou seu mais novo programa de incentivo ao cenário feminino: o VCT Game Changers. O programa visa trazer mais campeonatos e visibilidade para as jogadoras de VALORANT mundo afora.
Para muitas delas, o sonhado contrato com uma organização não significa apenas carregar o nome de um time, é poder profissionalizar e regularizar seu trabalho de atleta.
Assim, pedimos para que as jogadoras Shizue, DRN e Naxy deixassem suas palavras para as mulheres que sonham com este grande passo em sua carreira profissional.
Shizue iniciou levantando os ânimos: “Mulherada que não desanime, e tente sempre ir atrás dos seus sonhos. Eu tenho certeza que vão haver muitas oportunidades esse ano pra muita gente nesse meio, é só ter perseverança e esforço que a sua hora vai chegar”.
Já para Naxy, “a frase clichê do não desistir é importante”. Isso porque ainda há uma grande diferença de acesso às oportunidades no cenário de esporte eletrônico entre jogadores e jogadoras. Por isso, ações que incentivem a igualdade de gênero são de extrema importância para que as atletas mulheres possam se desenvolver como os homens.
Sobre essa incansável luta, Naxy pontua: “Sejamos realistas, nem todo mundo é obrigado a ser forte sempre, estando em um mundo extremamente machista como é o cenário de esports. Eu sei que às vezes muitas de nós choram e se sentem muito mal com isso, mas o importante é olhar quantos exemplos estão aparecendo. Mulheres incríveis que nunca desistiram dos seus sonhos, e todas nós estamos lutando para conquistar o espaço que de fato é merecido por nós. Então, se você não for forte o tempo todo, está tudo bem, estamos todas juntas para construir um lugar seguro e de igualdade. Lembre sempre que você é capaz e não deixe nunca ninguém dizer o contrário”.
Por fim, a DRN afirma que “se é o seu sonho, vai valer a pena. Faça isso por você e não por mais ninguém”.