Sem dúvidas, 2018 não foi o ano dos brasileiros no Counter-Strike. A nação verde e amarela acumula decepções e trocas de line-ups que não surtiram o efeito esperado. Desde janeiro, nenhum título de expressão foi conquistado pelos nossos representantes no cenário mundial de CS.
Mas qual é o problema de 2018? O que houve com o Brasil nesse ano que não conseguimos repetir as atuações de 2016 e 2017, onde fomos considerados os melhores do mundo?
Ano pra esquecer…
— Fernando Alvarenga (@fer) November 8, 2018
Retrospectiva 2017 e início de 2018
Ao fim de 2017, a SK Gaming (hoje MIBR) era o time a ser batido. Disparadamente a melhor equipe do mundo. O elenco, que contava com o trio da MIBR (FalleN, cold e fer) e a dupla boltz e TACO, vivia uma fase muito boa nas férias de fim de ano. Depois da adição de boltz, em outubro de 2017, a equipe faturou três títulos em quatro grandes eventos:
- EPICENTER 2017: em uma das finais mais memoráveis da história do Counter-Strike, contra os poloneses da Virtus.Pro. Vitória por 3-2.
- IEM Oakland 2017: derrota por 2-1 para NiP nas semifinais em uma série muito apertada.
- BLAST Pro Series Copenhagen 2017: FalleN prometeu transformar a arena da cidade dinamarquesa em uma biblioteca, de tão silenciosa. Cumpriu a promessa, ao vencer a dona da casa Astralis por 2-1 na final.
- ESL Pro League Season 6 Finals: partida teoricamente fácil para os brasileiros contra a FaZe Clan, já que fer deu uma entrevista e disse que a SK esperava um 3-0 naquela partida. A vitória veio por 3-1.
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Com esses títulos, a SK era a favorita ao ELEAGUE Major Boston 2018, mas havia um “pequeno” problema: boltz jogou as fases preliminares do Major pela Immortals, então não poderia atuar no evento vestindo a camisa da SK. Portanto, felps (a quem boltz substituiu) foi chamado para atuar em Boston. Apesar de estar com um stand-in e quase não ter treinado, a SK conseguiu um 3-4º lugar, sendo eliminada na semifinal pela campeã Cloud9.
Antes de avançarmos no tempo, é preciso relembrar a situação da 100 Thieves também. A equipe que seria composta por HEN1, LUCAS1, fnx, bit e kNgV-, desistiu da vaga no Major (que tinham garantido por terem sido vice-campeões no PGL Krakow 2017) e abdicou da disputa, alegando problemas com vistos para entrar nos EUA.
We are disappointed to share that due to immigration issues, the 100 Thieves CS:GO team will not be attending the upcoming Boston major. It goes without saying that this is devastating for the players and for us. We are truly sorry for them and their fans.
— 100 Thieves (@100Thieves) January 13, 2018
Estamos tristes em anunciar que por problemas de imigração, o time de CS:GO da 100 Thieves não comparecerá no próximo Boston Major. É evidente que isso é devastador para os jogadores e para nós. Sentimos muito por eles e pelos fãs.
A situação ficou insustentável após a polêmica de kNgV- com o analista inglês Thorin, que acusou o brasileiro de homofobia e cobrou uma posição da organização norte-americana. Logo após o ocorrido, o AWPer foi demitido da organização, que alegou “conduta e linguagem inapropriada” do brasileiro, e consequentemente, uma semana depois, os outros jogadores também foram liberados de seus contratos. Os profissionais acabaram indo para a NTC (sem kNgV-) e se aliaram a felps, que tinha saído da SK Gaming.
Passadas as polêmicas do Major, os SK voltaram a ser os melhores, pois a maior parte da comunidade mundial dizia que se eles tivessem jogado o evento principal com boltz, teriam sido campeões. Mas agora, as atenções se voltavam aos próximos campeonatos, onde os brasileiros novamente eram apontados como favoritos. Entretanto, o favoritismo não se concretizou:
- cs_summit 2: eliminação na semifinal contra a Team Liquid por 2-0.
- StarLadder & i-League StarSeries Season 4: eliminação nas quartas de final por 2-1, novamente contra Team Liquid.
- IEM Katowice 2018: eliminação ainda na fase de grupos, contra a Cloud9, por 2-1.
O time sofreu três eliminações de forma precoce, duras e contra adversários locais, da América do Norte (NA). O que dava esperança aos torcedores era que o evento de maior premiação do ano tinha chegado, a WESG 2017 (mesmo sendo realizada em 2018). Este evento era prioridade no calendário dos brasileiros e essencial para se manterem como os melhores do mundo. Mas não foi o que ocorreu.
Com uma vitória por W.O. contra a equipe NEW4 e duas derrotas para a Seleção Russa (16-10) e BIG (16-11), a SK Gaming vivia um filme de terror em suas cabeças. Se prepararam praticamente por três meses para o evento e foram desclassificados ainda na primeira fase. Foi a partir desse momento que tudo começou a ruir da forma que estamos vendo hoje.
Saída de TACO e formação de um elenco multinacional
TACO pediu para sair da equipe. Muitos dizem que ele foi kickado, mas a versão oficial do próprio jogador é que ele pediu para ser afastado. Então, começou a busca por um novo nome. Foram sondados jogadores consagrados do cenário brasileiro, como steel, LUCAS1 e HEN1. Também foi estudada a jovem promessa trk, jogador da Team One, mas por conta de valores em sua multa (leia o artigo sobre as multas: clique/toque aqui), o promissor rifler de 22 anos não entrou para a equipe.
Outros nomes foram especulados, a maioria internacionais. Boatos apontavam NiKo, rain e até shox. Os fãs se encheram de esperança mesmo ao saber da notícia de que s1mple e flamie (ambos da NaVi), seriam contratados para o lugar do afastado TACO e de boltz, que não agradava em desempenho.
Mas como nada foi fácil nesse 2018, a notícia não se confirmou e a dupla da NaVi não fechou contrato. Para a surpresa de muitos, o americano Stewie2k, ex-Cloud9 e na época, atual campeão do Major, foi contratado.
A mudança agradou no início e muitos esperavam muita química de Stew com os brasileiros. Mas é de conhecimento de todos que não foi isso que ocorreu. A equipe continuou com um desempenho muito abaixo do esperado, mesmo já tendo boatos da transferência para a organização Immortals, para atuar com a tag MIBR.
- 9-12º na DreamHack Marseille
- 13-16º na IEM Sydney
- Eliminação na fase classificatória da ECS Season 5
- 5-6º na ESL Pro League Season 7 Finals
- 5-8º na StarSeries & i-League CS:GO Season 5
- 3-4º na ESL Belo Horizonte 2018
Apesar dessas decepções, os brasileiros conquistaram dois torneios de menor importância: a Adrenaline Cyber League 2018, vencendo a Avangar na final por 3-1, e a Moche XL Esports, com vitória de 2-0 sobre a HellRaisers.
A nova Made in Brazil
A tão falada transferência para a MIBR chegou. Os cinco players agora atuariam sob nome de uma lendária tag que representou muito bem o Brasil no CS 1.6. Porém, a pressão sobre os ombros dos jogadores era enorme, tão grande que um novo mau resultado poderia acarretar em novas mudanças no elenco.
Chegando a ESL Cologne 2018, os brasileiros eram pressionados por resultados. De nova organização, esperava-se que o desempenho melhorasse. Entretanto, a nova camisa não deu novos poderes ao quinteto e eles caíram para a BIG, por 2-1, ainda na primeira fase.
Após o desastre na Alemanha, a line-up afastou boltz e trouxe o americano tarik para o lugar, gerando mais revolta na comunidade brasileira, que já não gostava o fato de um americano defender as cores da Made in Brazil. Agora, teriam que lidar com dois jogadores de fora do país representando “seleção brasileira de CS”.
Nesse meio tempo de troca de organizações, o segundo na linha de sucessão era a Luminosity Gaming, que trocou dois jogadores do time. PKL e SHOOWTiME deram lugar aos gêmeos LUCAS1 e HEN1, que foram dispensados da NTC.
Parece que a LG seguia os passos da “irmã mais velha” MIBR, pois trocava de jogadores e os resultados eram os mesmos. Os irmãos Teles e companhia ainda conseguiram um vice-campeonato na DreamHack Valencia 2018, ao perder para a desfigurada, e atuando com stand-in, North. Os dinamarqueses atropelaram a Luminosity por 16-7 e 16-9 para faturar o título do evento espanhol.
Voltando à MIBR, o quinteto atuou junto pela primeira vez no ELEAGUE CS:GO Premier, mas não foram além da fase de grupos, ao perderem duas vezes para Team Liquid, que já contava com o ex-SK TACO em sua equipe desde abril.
Após a desclassificação, a organização trouxe temporariamente o analista sérvio YNk para atuar como técnico. Já no primeiro evento, a ZOTAC Cup Masters, a line-up venceu a Team Kinguin na final por 3-0 e sagrou-se campeã.
Na DreamHack Stockholm, os comandados de FalleN foram até as quartas de final e saíram da disputa após uma derrota para a avassaladora Astralis, por 2-0. Então, agora sim chegaria o maior teste deste time: o FACEIT Major: London 2018.
FACEIT Major 2018 e BLAST Pro Series
No evento mais importante do segundo semestre, a expectativa era grande em cima da MIBR, apesar de nem serem considerados como possíveis candidatos ao título. Isso foi até bom para tirar o peso das costas dos atletas, mas não isentou a responsabilidade de fazer uma boa companha e se firmar entre os melhores.
Após uma primeira fase com altos e baixos e uma partida fácil nas quartas de final contra a compLexity, os três brasileiros e dois americanos se chocaram com a NaVi, número 2 do mundo. Nossos garotos não foram além e sucumbiram a s1mple e seus amigos por 2-0.
Com a derrota no Major, a desconfiança chegou de forma concreta. Ninguém sabia o que esperar mais desse time, se vingaria ou se seria mais uma line-up que duraria alguns meses e viraria apenas passado.
Na BLAST Pro Series: Instanbul, os brasileiros foram bem e chegaram à final, contra a campeã do Major, Astralis. Os dinamarqueses haviam aplicado 16-0 na MIBR no evento de Londres, a primeira vez que um resultado desse acontecia nos Majors de CS:GO.
A final aconteceu, e confirmando as apostas, a Astralis venceu, mas para a surpresa de muitos, a MIBR perdeu por 2-1, com um apertado 16-14 no último mapa, vencido pelo time escandinavo. Era o resultado que muitos precisavam para afirmar que a MIBR “estava de volta” e que seriam os melhores do mundo novamente em pouco tempo.
Mas 2018 não foi o ano para nós brasileiros torcermos por CS.
Pausa e IEM Chicago
Após uma pausa de um mês aproximadamente dos torneios presenciais, chega a BLAST Pro Series Copenhagen 2018, onde ano passado, os brasileiros calaram a arena e venceram a Astralis, dando origem ao meme “FalleN, the Bad Librarian”.
Porém, após cinco derrotas em cinco jogos, para Astralis (16-14), Cloud9 (16-13), NiP (16-4), NaVi (16-14) e FaZe (16-7), a desconfiança da torcida brasileira voltou como um meteoro que caiu sobre a estrutura de um time ainda em construção. A line-up precisava de um resultado bem convincente na IEM Chicago para afastar a crise.
Após uma linda virada sobre a Renegades no primeiro jogo, a MIBR enfrentou a FaZe em seguida. Derrotada por 2-1, em um primeiro mapa de recuperação, mas derrota por erros de estratégias que custaram a partida.
A decisão seria contra a NRG. Vitória no primeiro mapa por 16-10 e todos achando que seria tranquilo. Segundo mapa, derrota por 22-18, após recuperação e problemas na prorrogação, que deram a vitória ao adversário. Terceiro mapa, vitória convincente da NRG, por 16-11 e crise total nos MIBR.
Também no IEM Chicago, a Luminosity começou mal, perdendo para Liquid, mas se recuperou após vencer a Avangar e eUnited, ambas por 2-0. A eliminação veio em uma derrota para a mousesports por 2-0.
O que esperar do futuro para o CS brasileiro?
E agora? O que será do futuro do Counter-Strike brasileiro?
Há times muito promissores como Team One, Furia e INTZ, que possuem fortes candidatos a serem grandes jogadores, como trk e kscerato. Vontade, com certeza, não falta para os brasileiros voltarem ao topo.
A MIBR com dois americanos é o ideal? Talvez não seja, mas é fato que a internacionalização das equipes de CS está cada vez maior, como citado em um artigo anterior (clique/toque aqui para ler).
Outro fato é que a comunidade brasileira deseja muito a volta de cinco brasileiros ao topo do jogo e, para isso, tarik e Stew teriam que dar lugar a dois jogadores da terra canarinho. Qual dupla seria legal de ver na MIBR? Como poderiam se ajustar as line-ups para que o Brasil voltasse ao topo do mundo? Deixe sua opinião nos comentários abaixo.
ótimo matéria, sensacional!
Artigo muito bem escrito, parabéns!
Muito obrigado, Matheus!