Felipe Guerra: “A fotografia é uma mensagem e ela ajuda a contar uma história”

Em entrevista ao The Clutch, Felipe Guerra, um dos fotógrafos mais renomados do cenário de esports, contou para nós um pouco de sua história: como entrou nos esportes eletrônicos, seus jogos preferidos e os eventos que marcaram a sua carreira.

Felipe Guerra
Selfie de Felipe Guerra durante a GC Masters (Foto: Reprodução/Twitter)
Quem é o Felipe Guerra e como ele começou na fotografia?

Primeiro lugar, muito obrigado pelo convite. Fico muito feliz com a ideia e espero poder ajudar e inspirar outras pessoas e que minhas respostas rendam algo de bacana para vocês.

Meu nome é Felipe e um dos meus sobrenomes é Guerra né, que foi o nome que eu escolhi como jornalista e posteriormente como fotógrafo. Sou jornalista de formação há quase 8 anos, tenho uma especialização em marketing e mídias sociais e outra em ciências políticas.

Falando da fotografia, que é a área principal em que eu atuo, por enquanto a única área que eu atuo nos esports. Eu comecei a ter contato no começo da faculdade, no fim de 2006, quando ganhei uma câmera bem simples digital, porque eu teria a aula de fotografia em 2007 e aí minha mãe me disse: “acho que vai te ajudar, espero que você goste”, pois ela é toda artista e tal: pintora, desenhista, etc.

E de fato eu comecei a gostar muito de fotografia. Mas assim, era meio que um hobby. Sabia que poderia trabalhar com aquilo um dia e tudo mais, só que eu não tinha como investir, então eu simplesmente levava como um hobby. Eu imaginava que em algum momento trabalharia com aquilo mesmo, mas poderia demorar.

E quando foi que você virou fotógrafo profissional?

Depois que eu voltei para São Paulo e comprei uma câmera um pouco mais profissional, que comecei a ter mais contato técnico com a fotografia, porque a faculdade de jornalismo não ensina muito. E foi aí que eu virei voluntário em uma ONG de proteção animal, que é um lugar aonde eu sou voluntário até hoje como fotógrafo, então eu acabei evoluindo muito também.

Em geral, foi uma vida muito maluca, morando em vários lugares e trabalhando com várias coisas. Trabalhei os últimos 6 anos como jornalista e assessor de imprensa em um colégio de elite aqui em SP e desde o ano passado, comecei a trabalhar paralelamente em esports, atendendo tudo que eu podia.

No fim do ano, que estava ficando mais apertado de conciliar os caminhos, eu acabei decidindo apostar nos esports e na fotografia principalmente, lógico atendendo outros temas também quando possível, para não depender só da renda de esports, que é uma área que ainda tá emergindo, nem sempre tem tanta demanda e tudo mais.

E de onde veio a sua paixão por games?

Tenho 30 anos e eu jogo desde os 4 ou 5 no computador, desde a época que os monitores tinham uma cor só, bem bizarro mesmo. Comecei jogando Prince of Persia e por aí vai.

Tive contato primeiro com os esports mais conhecidos, como o CS 1.5, mas jogos competitivos já tinha jogado outros, como o Team Fortress, a versão original que era um mod de Quake. Sou viciadão em jogos desde sempre. Fiquei alguns anos sem jogar tanto e acabei voltando algum tempo depois a acompanhar e a jogar bastante.

QWTF
Team Fortress para Quake (Foto: Reprodução/YouTube)
Como que surgiu o primeiro convite para um evento de esports?

Meu primeiro evento foi a Power Lounge Cup, em abril do ano passado. Foram 3 dias de CS realizados na Power Lounge que é uma lan de São Paulo. Não foi um convite, eu nunca havia trabalhado na área, então havia 0 contatos e 0 currículo.

Desde o fim de 2016, eu estava muito empolgado em trabalhar com esports, principalmente depois de ver a final da ESL Pro League que aconteceu em SP. Gostava muito de ver o pessoal competindo e fotografar aquilo seria muito legal, pois iria conciliar várias paixões.

No campeonato da Power Lounge, que foi organizado pelo Absurdo (dono da lan e manager na equipe de R6 da NiP) e pelo Apoka, figuras conhecidas no cenário de esports nacional, percebi que por ser um campeonato pequeno, talvez eles não teriam um fotógrafo para o evento, então decidi mandar uma mensagem para eles oferecendo meu serviço voluntariamente. Então, o Absurdo me chamou e conversamos um pouco e ele acabou topando a ideia e ajudou com alguns custos. No final, acabou dando tudo muito certo. Ele [Absurdo] me ajudou a abrir muitas portas e é um cara sensacional.

Campeonato CS:GO Power Lounge
Troféus do campeonato de CS:GO da Power Lounge (Foto: Felipe Guerra)
Qual foi o evento que mais lhe marcou?

Esse meu primeiro trabalho na Power Lounge Cup foi um dos que mais me marcaram desde que comecei, pois foi a minha porta de entrada. Eu estava com o equipamento antigo ainda, a mesma câmera que comprei em 2012 e a importância que eu dou para esse campeonato é imensa.

Cada evento que eu faço eu levo com muito carinho. Três meses depois, aconteceu a Gamers Club Masters e fui convidado pelo Marcelo Toledo (irmão de FalleN). Eu não podia subir no palco e foi um trabalho desafiante pra mim, mas mesmo assim rendeu um conteúdo legal. Isso acabou abrindo portas, pois muitas pessoas me mandaram mensagens falando que viram as fotos do evento e que gostaram bastante.

Outro evento muito importante também foi a ESL One Belo Horizonte desse ano, que fui com a ESPN. Foi um evento maravilhoso. Estar lá como torcedor e tirando fotos que iriam para a imprensa e que ajudariam a escrever a história do que tinha acontecido ali, era de um valor imenso. Em 1 ano, ter chegado a esse ponto no qual eu cheguei me deixa sem palavras pra descrever. É sensacional e eu quero e busco mais, seja eventos nacionais ou internacionais.

Lembro que em junho do ano passado fiz meu trabalho independente liberando as fotos para a ESL e meses depois, fui chamado para trabalhar em vários eventos e isso também me marca bastante, mesmo não sendo grandes eventos abertos, mas era a ESL, conhecida por ser uma grande organizadora de eventos.

ESL One BH
Torcida brasileira no Mineirinho durante a ESL One BH (Foto: Felipe Guerra)
Há algum jogador ou alguém que te inspira a acompanhar e a evoluir dentro dos esports?

Tudo começou no final de 2016, quando comecei a acompanhar o cenário mais de perto através do MLG Columbus Major. Lembro que assisti o Major, vibrei e gritei muito quando a Luminosity Gaming ganhou. Eu acompanhava direto os outros jogos daquela formação com TACO, FalleN, FNX, Fer e Coldzera e ficava impressionado com o que eles passaram pra chegar aonde chegaram, as dificuldades que tiveram pra alcançar os sonhos deles. Aliás, foi ali que pensei em começar a trabalhar com esports.

FalleN, por exemplo, é um cara que admiro pela sua visão de empreendedor, vendendo vários produtos, criando e gerindo a sua imagem, trabalhando em várias frentes e sendo um porta-voz. Outras pessoas que admiro são o Gio, que é muito profissional e competente em todos os seus projetos e o Absurdo, que me deu muitas oportunidades.

O cenário feminino também batalha bastante pra ganhar visibilidade e isso me inspira muito. Eu sempre tento buscar muitos exemplos positivos pra me inspirar e melhorar sempre no meu trabalho. No ramo da fotografia, tenho como inspiração a Helena Kristiansson, fotógrafa da ESL, que me inspirou a começar nessa área de esports e o João Ferreira da HLTV, que é um dos sites mais importantes do cenário. Conheci ele na ESL One e sempre se mostrando muito humilde e batalhador. É um cara que tá sempre investindo e evoluindo. Ele sempre fica até o final pra poder tirar as melhores fotos do torneio.

João Ferreira
João Ferreira, fotógrafo oficial da HLTV.org (Foto: Reprodução)

Conheci muitas pessoas que trabalham nos bastidores, buscando investimento para o esports, e hoje vejo que há várias pessoas que estão entrando no cenário em várias áreas, mas ainda sinto uma falta de especialização. Isso pode prejudicar o próprio profissional e o seu cliente até. Na minha área, percebo que poderia ter mais pessoas, mas é uma área um tanto quanto “elitizada”, pois quem tem um bom equipamento tem mais facilidade pra entrar no meio e se manter, pois com uma boa câmera e boas lentes tem como ter uma melhor qualidade no material.

Falando ainda de especialização, as suas vivências também podem contar como bagagem de experiência na área e muitas vezes pode te tornar um profissional melhor do que alguém que fez uma faculdade de fotografia.

Qual o seu jogo favorito? E já sonhou em ser profissional dele?

Competitivamente é o CS. Joguei todas as versões e cheguei até ser patrocinado por uma lanhouse! Hoje em dia a minha chance é baixa, não tenho muito tempo sobrando nem idade pra isso.

Eu também gosto de jogar o PUBG, Fortnite e Overwatch atualmente. Este úlitmo, inclusive, é um jogo que lembra muito o Team Fortress que eu joguei muito quando era mais novo, mas mesmo assim não penso em me arriscar nesse mundo de jogador profissional. Outro jogo que eu estou jogando bastante é o Rainbow Six Siege, que está crescendo bastante no cenário competitivo.

Acha que o R6 pode tomar o lugar do CS:GO como FPS (first person shooter) mais jogado aqui no Brasil?

Essa é uma boa pergunta, porque o Rainbow Six está tendo bastante investimento, são muitas marcas chegando. Isso impacta muito também na parte financeira. Apesar da visibilidade crescendo, acho que o CS é um jogo muito nostálgico e querido no Brasil e tem uma jogabilidade um pouco menos complicado do que o Rainbow Six. É muito mais fácil entrar num lobby casual do CS e começar a jogar, enquanto no Siege você tem o tempo pra escolher o operador, pra entrar na partida, aí tem a fase de preparação e isso pro jogador casual pode não ser tão interessante. Sem falar que CS:GO é um jogo mais barato e leve.

Temos que esperar pra ver como que o cenário do Siege vai estar daqui há um ano, como vai ser o crescimento na mídia e nos investimentos, principalmente de equipes de fora do país. Na minha opinião, acho que o Rainbow Six não vai superar o CS aqui no Brasil como FPS mais jogado, pelo menos não por enquanto.

Existe alguém do cenário de esports que você gostaria de fotografar?

Um dos maiores sonhos é poder fotografar os principais eventos de esports do mundo, como um Major. Quanto a uma pessoa específica, ainda não tenho, porque são várias personalidades que eu ainda quero fotografar. Se for citar um exemplo, tem os caras da MIBR. Já fotografei eles, inclusive fui contratado pela Immortals pro evento do lançamento da marca, mas o que eu tenho de meta é poder mais pra frente fotografar esses caras em um grande evento de esports, quando eu estiver mais consolidado na área.

Inclusive, o FalleN até lembrou de mim pois fotografei eles na Power Lounge quando vieram jogar o qualificatório para a WESG e isso pra mim é algo surreal porque ele é um dos meus ídolos.

FalleN
FalleN, um dos ídolos de Guerra, pelas lentes do próprio (Foto: Felipe Guerra)
Então o Major de CS:GO seria o seu evento dos sonhos?

Olha, realmente eu ficaria muito feliz, mas ainda sim existem muitos eventos de prestígio no mundo, como a ESL One Cologne. Seria um sonho ir pra lá trabalhar e adoraria viajar para um lugar como lá.

Aqui também tem muito torneios muito bons, ainda mais pela torcida que temos aqui no Brasil. Lembro que o Machine (comentarista de CS:GO), na ESL One Belo Horizonte, até falou que pela primeira vez, não conseguia ouvir a própria voz em um evento por causa do barulho da torcida que era muito alto, e ele achou isso muito legal. Além do mais, mostra nosso amor pelo jogo e espero que tragam mais eventos desse tipo pra cá.

Gostaria muito também de estar presente em campeonatos de jogos como DOTA e o Overwatch. Seria muito bom trabalhar em um evento de grande porte.

Tem alguma dica para as pessoas que desejam começar no ramo da fotografia para esports?

Claro que fotografia não é apenas clicar na câmera e tirar a foto. Fotografia é observação, vivência. Quando você está em um campeonato você não vai apenas ficar com a câmera parada esperando o momento certo, você tem que observar, sentir o clima, ver as pessoas ao seu redor as suas reações e entender o contexto, porque não é apenas um jogo e sim uma disputa.

A missão do fotógrafo é exportar essa emoção pra outros ambientes, seja portfólio, imprensa, porque a fotografia também é uma mensagem e ela ajuda a contar uma história. Observe e dedique tempo a isso. São muitos rounds e muitas oportunidades para você ver o que acontece ao seu redor e registrar os momentos, se adaptar constantemente à luminosidade e até ângulos, sempre buscando as melhores fotos.

Gostaria de expressar algumas considerações finais?

Pra galera que tiver dúvidas sobre o mercado, como entrar no cenário, pode entrar em contato comigo. Tudo o que eu tiver de conhecimento eu compartilho. O que eu digo pro pessoal é acreditar no cenário, que tá crescendo muito, mas ainda sim tem que trabalhar bastante pra crescer cada vez mais na área de esports.

Na fotografia, é necessário saber cobrar o preço certo, principalmente porque os equipamentos são caros e que tem uma certa vida útil, por isso é muito importante estudar bem isso e fazer com cuidado para que você possa montar uma base de investimento pra melhorar sempre o seu trabalho.

Esports é paixão, amor e muito suor. Às vezes não é da forma como a gente imagina, mas devemos pensar a médio e longo prazo. Com o tempo vamos pegando experiência. Se nos dedicarmos cada vez mais, nosso reconhecimento aumenta.

Sempre tem que trabalhar o seu lado empresário, saber negociar e investir no material, sem falar que ainda tem muito espaço nessa área em que eu trabalho. Para mim é muito gratificante poder trabalhar nessa área e ser lembrado pelos registros que fiz. Ver as pessoas compartilhando aqueles momentos importantes me deixa muito feliz.

Total
0
Compartilhamentos
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comentários 2
  1. Olá

    Gostaria de saber mais acerca de ser fotografo de E-Sports
    Adoro fotografia e captar momentos/reacçoes é uma das minhas paixoes
    Tenho uma admiraçao e um amor gigantescos pelo CS:GO !!!
    Será que poderia me dar uns conselhos ?

melhores cassinos online melhores cassinos online