Diretor financeiro da FURIA fala sobre time de CS, abertura de capital e mais

Marco Gereto CFO FURIA
Foto: Divulgação/FURIA

Há algum tempo, a FURIA vem sendo uma das principais organizações de esportes eletrônicos do Brasil e, com certeza, a mais importante do cenário nacional de Counter-Strike. Ainda assim, pouco se sabe sobre os bastidores da equipe e seu lado empresarial.

Para entender um pouco mais dos planos da FURIA para 2024 e saber o que se passa além de jogadores, partidas e redes sociais, o The Clutch bateu um papo com Marco Gereto, CFO (Chief Financial Office) da organização.

Primeiramente, muito obrigado pelo seu tempo, Marco. Vamos começar falando um pouco do “inverno nos esports”, este período atual em que diversas organizações estão com dificuldades para se manter de pé, como FaZe, Guild e Evil Geniuses. Apesar de não termos acesso aos relatórios financeiros da FURIA, a equipe parece estar no caminho oposto, expandindo os negócios mundo afora, com abertura de escritório em Malta, loja nos Estados Unidos e outros empreendimentos. O que você acha que deu errado nas outras organizações e o que deu certo na FURIA?

Eu tenho uma visão mais otimista sobre o setor de esportes e jogos eletrônicos, diferentemente do que tem estado na mídia recentemente. Na minha perspectiva, o setor está passando por uma fase de crescimento robusto, impulsionado por tendências de longo prazo. O número de fãs e audiências globais em eventos esportivos continua a aumentar, assim como a base de jogadores de jogos eletrônicos.

Atualmente, existem cerca de 1.8 bilhão de gamers no mundo, representando 22% da população global, e mais de 550 milhões de fãs de esportes, o que corresponde a 7% da população global. Projetando para o futuro, em 2030, espera-se que aproximadamente 43% da população global, ou 3.7 bilhões de pessoas, se envolvam com jogos eletrônicos. Ao mesmo tempo, o setor de esports deve superar a marca de um bilhão de fãs. Essa tendência é impulsionada pela mudança profunda na indústria de entretenimento, na qual os jogos eletrônicos estão se consolidando como uma das principais formas de entretenimento global.

No contexto das startups, o desafio enfrentado por algumas empresas parece estar mais relacionado à estratégia de crescimento agressivo adotada durante os anos de alta liquidez no mercado do que a problemas intrínsecos ao setor de esports.

Em resumo, acredito que, apesar dos desafios enfrentados por algumas empresas, o setor de esportes e jogos eletrônicos está bem posicionado para continuar prosperando, e a FURIA destaca-se por sua disciplina financeira histórica, permitindo um crescimento sustentável com geração de margens. Nossa estratégia está alinhada com a missão de ser uma empresa perene, oferecendo entretenimento e mensagens de transformação e impacto positivo, como por exemplo de inclusão social.

Há um intenso debate na comunidade entre o modelo de franquias, adotado pela Riot Games, e o modelo aberto, adotado pela Valve. Ambos já mostraram ter suas vantagens e desvantagens, e a FURIA participa dos dois sistemas. Quais são os pontos positivos e negativos de cada um deles, financeiramente falando?

O modelo de franquia proporciona uma previsibilidade de receita que facilita a organização, o crescimento, a captação de recursos, contratação de novos talentos, entrada em outras modalidades e expansão dos negócios, incluindo a captação de patrocinadores. Ele é amplamente utilizado na indústria de esportes tradicionais e não é por acaso que as maiores ligas do mundo operam nesse modelo de franquia. Os benefícios são evidentes e contribuem para a eficiência operacional dessas ligas, proporcionando estabilidade e recursos necessários para seu desenvolvimento.

Por outro lado, o modelo aberto tem sua própria importância, possibilitando que novas equipes acessem campeonatos de alta visibilidade. Sob um viés mais orientado à performance, é um modelo dinâmico que favorece uma variedade maior de times. Isso cria oferece oportunidades significativas para equipes mais novas demonstrarem seu potencial.

Ambos os modelos têm méritos distintos, e a escolha entre eles dependerá das metas e da estratégia de cada equipe ou liga esportiva. Em resumo, a flexibilidade do modelo aberto permite uma maior diversidade de participantes, enquanto o modelo de franquia oferece estabilidade e previsibilidade, impulsionando o crescimento a longo prazo.

FURIA CBLOL
FURIA é uma das franqueadas do CBLOL (Foto: Reprodução/Riot Games)

Outro debate que sempre vem à tona é a questão da lucratividade de um time de CS. Parece ser um grande desafio para as organizações ficarem positivas na modalidade. Vimos isso inclusive com a Astralis, que em seu melhor ano dentro dos servidores, 2019, no qual conquistou a maioria dos grandes torneios, teve prejuízo. Como a FURIA tenta contornar essa situação e qual a visão da equipe a longo prazo?

Para responder a essa pergunta, é essencial começar fazendo uma distinção importante: a diferença entre receitas diretas e indiretas, custos diretos e despesas diretas e indiretas em uma organização esportiva. Cada modalidade dentro dessa organização contribui com suas próprias receitas, como premiações específicas, repasses das ligas e vendas de atletas.

As despesas diretas incluem salários da equipe, viagens para competições, investimentos na compra de franquias, entre outros. É crucial entender que essas análises não significam que uma modalidade, como uma equipe de Counter-Strike, seja necessariamente deficitária, pois há receitas indiretas a serem consideradas.
Receitas de patrocínio, por exemplo, representam 50% da receita total em média na indústria de esportes eletrônicos. Elas estão intrinsecamente ligadas à audiência e ao engajamento gerados pela organização por meio de várias atividades, como competições de Counter-Strike, League of Legends e produção de conteúdo para mídias sociais.

O desafio é entender que as receitas são sinérgicas, resultando da interação entre diferentes atividades da organização esportiva. Analisar isoladamente uma modalidade pode não refletir a complexidade do modelo de negócios.

FURIA Gamers8
Nos últimos anos, a FURIA se tornou a principal equipe de CS do Brasil (Foto: Reprodução/Gamers8)

Em um passado não tão longe, vimos a Misfits Gaming abandonar completamente o lado competitivo e focar somente na criação de conteúdo. Quão relevante para a FURIA é esse setor?

Temos observado uma tendência de equipes migrando para o centro do espectro entre modelos de “performance pura” e “conteúdo puro”. O modelo vencedor na indústria atual é um equilíbrio, um mix que engloba tanto o desempenho competitivo quanto a produção de conteúdo. As equipes mais bem-sucedidas não são puramente focadas em uma única área. Portanto, é fundamental entender como uma organização esportiva opera como um todo.

Para um entendimento mais amplo do modelo de negócios de uma organização esportiva saudável, a análise deve considerar não apenas modalidades específicas, mas também a sinergia e a complementaridade entre elas, promovendo um modelo de negócios robusto e sustentável.

Misfits Gaming
Mudança de marca da Misfits (Foto: Reprodução/Esports Insider)

Para finalizar, a FURIA pretende abrir capital? É um objetivo que já foi traçado ou discutido internamente?

A FURIA tem objetivos claros, sendo eles o crescimento, a perenidade da organização e o impacto social gerado por nossas ações em todas as esferas em que estamos presentes. A decisão de abrir capital não será tomada a menos que sirva diretamente a esses objetivos.

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